sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Uma pra cada uma



- Fala a verdade Julio, você acredita em Deus?
- Oi?
- É. Deus, Jùlio, você acredita?
- Humm. – Júlio deixa escapar um grunhido indecifrável. Pera aí. Ô Garçom, garçom, amigão, traz mais dois chopps.
-Eu não quero um chopp, fala Adriana, indignada.
- Ah não quer?
Categórica, ela diz de nariz empinado, e olhando para as próprias unhas:
-Não.
O garçom parece incomodado com a discussão e seu rosto, parecendo um imã que atrai quando chamam seu nome, não pára de se virar para todos os lados. O bar está cheio, e todos parecem sedentos como se o mundo estivesse chegando ao fim.
-Mas então você não bebe?
-Você acredita em Deus?
-O que que tem a ver Deus com bebida?
- Tem a ver que eu perguntei primeiro e você não respondeu até agora.
- E nem vou responder.
-Ah, você não vai responder? – Ela fala com ar vingativo, ameaçador.
- Não.
- Ok.
-Ok.
O garçom também parece esperar uma resposta. Ficam em silêncio por 5 segundos, até que ele não resiste, e pergunta:
- Mas me fala linda, você não bebe não?

Duas horas depois, os dois, ainda sentados na mesa do bar, conversam sobre política, amores passados, filmes e música. Ele encoberto por 6 garrafas de cerveja, e ela ainda bebericando o mesmo suco que pedira quando chegara.
- Mas então Julio, me fala uma coisa, você acredita ou não em Deus?
- Adriana, posso saber porque tanto isso é importante, meu bem? Falar de religião a essas horas. O papo tá tão bom. Sempre dá merda quando a gente entra nesses assuntos mais pessoais.
- Mas eu acabei de te contar que já fiz um ménage com 3 caras, cada um de uma raça diferente, e você não quer me falar se acredita em Deus?
- Não.
- Não pode ser.
- Mas é.
- Não, não pode.
- O que que não pode?
- Você sabe o que que não pode.
- Não sei não.
- Sabe sim, você disse “Mas é”.
- Não, não disse.
-Disse sim.
- Ok.
Adriana parece calma. Respira com tranqüilidade, olhando para as pessoas do bar com ternura e sorrindo como uma candidata à vereadora. Até Julio se assusta com sua frase dita ao acaso, e aos berros:
- Fala logo se você acredita ou não! Fala, logo.
- E o que acontece se eu não falar?
- Sei lá, mas se você falar eu vou pra cama hoje com você.
Julio mexe-se de maneira esquisita na cadeira. Seu rosto parece passar por uma rápida deformação, mas logo volta ao normal. Adriana era bonita, gostosinha até. Os seios pareciam grandes o suficiente para encher a mão e, já fazia tanto tempo desde a última vez. Então, decidido, Julio é tomado por um arrepio da espinha até a nuca, e seu sangue fervente o faz gritar incontrolavelmente:
- Uh, Mi Dios! Que tetas calientes!
Silêncio.
- O que você disse?
- Eu não disse nada.
- Claro que disse. Todo mundo ouviu, tá todo mundo te olhando.
- Estão todos loucos.
- Você que é louco. O que você disse?
-Não vou falar.
- Fala logo o que você disse!
- Tá.
-Sério?
- Uhum.
- Então fala.
- Mas o que você prefere saber?
- Como assim?
- Se eu acredito em Deus ou o que eu acabei de falar?
- Ah então você admite que falou?
- Sim sim...
- Prefiro saber os dois. Trato é trato.
- Isso! Duas perguntas!
-É.
- Então cadê sua amiga pra eu te responder essa outra pergunta?
- Que amiga?
- Trato é trato, uma mulher pra Deus, outra pro espanhol.
E cruzou os braços decidido, esperando uma resposta.




Letícia Mueller

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