sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Nem Tudo Que Reluz É Ouro



Sexta-feira, 20h, Carmelo Rangel, Priscila está no banheiro se preparando para sair. Em frente ao espelho, a jovem de 20 anos colore os cílios com rímel, pinta levemente os olhos de preto, cora as maçãs do rosto com blush, aumenta os lábios com batom e alisa os longos cabelos cor de mel. Veste a roupa comprada na véspera, um vestido preto decotado, calça seu scarpin salto 15, põe seus brincos enormes de cristal Swarovski, e voilá, está pronta. Priscila passa no quarto do irmão e pergunta:

- E aí, tá bom?

O irmão afirma de leve com a cabeça, enciumado com a irmã linda que tem.
Sexta feira, 23h30, Avenida Batel. Priscila está em frente a um dos points preferidos para a balada, conversando com as amigas e checando o ambiente. Homens mais velhos chegando de Audi, BMW e afins, atraem seu olhar de minuto a minuto, até que decidem entrar. Começa a brincadeira.

O lugar é daqueles iguais a tantos outros frequentados por pessoas como Pri, lindas e ricas, ou seja, o lugar perfeito para o jogo que as amigas criaram. Cada uma deveria procurar o cara mais gato da noite e “pegar”, mas pegar de jeito.

Ansiando a vitória, cada uma vai para um lado e começa a procurar, não sem antes garantir um charme com uma cerveja em uma mão e um cigarro na outra. Priscila requebra, rebola, joga os cabelos para trás, acompanhando o ritmo da música, mas sempre de olhos bem abertos, atenta para achar seu alvo.

Até que o encontra. Escondido em uma roda de nerds terríveis, estava o homem mais gato da noite, o Moreno-dos-olhos-verdes.

Ela vai dançando enquanto se aproxima sorrateira, para não parecer mulher muito fácil. Mexe o corpo lentamente, dando algumas olhadas em direção a ele para chamar a atenção. Quando percebe que já foi notada, Priscila se aproxima ainda mais, mas agora dançando de costas, fingindo-se de difícil.

Ele dá o bote, ela cede. Beijo quente, rápido, molhado, muito molhado. Ele desce a mão. Ela sobe a mão. Ela é difícil, ele pensa. Quero ela. Quero ele. Preciso. Preciso.

Priscila despede-se das amigas com um sorriso de orelha a orelha. De mãos dadas com o Moreno-dos-olhos-verdes, ela sai sem nem ao menos ter que tocar na carteira e já com a certeza de passear em seu carro importado.

E lá vai ela, linda e loira, dentro de uma Mercedes SLK 320, acompanhada com seu prêmio. Moreno-dos-olhos-verdes abre a porta da mansão para Priscila e o casal entra tropeçando nos próprios pés.

Aos beijos, abraços, mãos e línguas, ambos correm para o sofá, cheios de volúpia. Priscila, já descalça, sente as mãos do Moreno-dos-olhos-verdes percorrerem seu corpo com vontade, e tirar-lhe o vestido já indesejado, ao mesmo tempo em que ela também arranca a sua camisa.

E a surpresa é mútua e inevitável, pois nenhum dos dois, apesar de despidos, estava nu ou semi-nu. Olham um para o outro, e para aquilo que os unia.

Na brincadeira do pega pega,esconde-esconde, o “Slim Control” saiu na frente, e o casal, já receoso em conhecer o que havia por trás do modelador alheio, usa de sua melhor arma contra o inimigo.

De luz apagada, Moreno-dos-olhos-verdes e Priscila Linda e loira comemoram a estratégia usada, pois não só na horizontal é tudo igual, como também à noite, todos os gatos são pardos.



Letícia Mueller

2 comentários:

Anônimo disse...

Condução narrativa muito boa e desfecho melhor ainda. Mandou bem (de novo), Fofulety.
Beijo

Mario

Cigano disse...

Ótimo texto.