sábado, 8 de agosto de 2009

Uma odisséia de inverno


Começo com Drummond e seu sábio conselho: “Convive com os teus poemas antes de escrevê-los ...”

E depois de conviver, eu não imaginava que gostaria tanto. Seu jeito de falar, sua forma de estar presente, suas gargalhadas que deviam ter seguro de tão gostosas, sua capacidade de ouvir, seus carinhos sem economia, tudo isso foi fazendo com que minha travessia ganhasse outro sentido.

Com ele, sentia-me livre para errar com minhas verdades provisórias. Com ele, não havia pressa .Gostava de ouvir suas canções e suas histórias. Admirava seu jeito de falar da vida. Descolado, independente ,vegano, espiritualizado, sedutor. Um poeta-iogue rebelde.

Nunca me senti amada daquele jeito por ninguém, nunca com tamanho prazer e com tamanha destreza e obstinação. Embora não saiba muito do assunto, sei que, na intimidade, existem determinadas leis naturais que regem a experiência sexual de duas pessoas, e que essas leis não podem ser mudadas, da mesma forma que a gravidade não admite negociações. Sentir-se fisicamente à vontade com o corpo do outro não é uma decisão que se possa tomar. Ou o misterioso imã está presente, ou não está. Acho que temos entre nós a sintonia perfeita. Tudo no nosso universo sensual é de maneira simples e completa, facilitado, e também felicitado. Claro, só não chegamos a um acordo quanto ao outro lado do planeta, mas temo que eu acabe abrindo a guarda totalmente quanto a antigas convicções.

"Olhe só você" – ele disse, puxando o espelho enquanto fazíamos amor mais uma vez, mostrando-me meu corpo nu e meus cabelos, que estavam absurdamente organizados mesmo depois de tanta agitação (de fato, não acho que o meu corpo tenha tido a aparência ou a sensação de tamanho relaxamento na vida). E então ele me conduz novamente a uma outra posição e diz: "venha gostosa" (ele também é mestre em apelidos carinhosos), fui promovida várias vezes nessa noite.

O fato é que eu havia me apaixonado por ele. Em minha defesa posso dizer que ele havia possibilitado isso, já que era uma espécie de homem fatal.

Eu também ouvia passarinhos na janela. Isso não é certeza, talvez seja fruto do meu êxtase pessoal daqueles dias. Não sei se havia realmente algum passarinho. Nem sei se ele cantou. Nem qual era a canção, qual o tom ou a partitura. Só sei que era verde.





Paula Diniz

6 comentários:

Anônimo disse...

Belíssimo texto.Pena tamanho romantismo e visão,( e homem, claro) só existirem, de fato, nos poemas, como você bem cita Drummond ...Mas você é nova , não?

Anônimo disse...

Belíssimo mesmo. Mas ela não é nova, não. Apenas não publicava nada no blog há um bom tempo.
Beijo, Pimentinha.

Mario

Paula disse...

Anônimo,

A beleza está nos olhos de quem vê. Acho(muito)importante praticarmos essa sensibilidade.

Mário,

Tks baby, mas vc é sempre muito gentil.bjo

Anônimo disse...

Amadaaaaa, parabéns pelo retorno. Estavámos ansiosas para ler. Parabéns!(ainda achamos que "aquele texto" sabe? "aquele")deveria ser publicado também . Estamos na torcida.Nós, perdemos uma amiga amada, inteligente e sensível pra Sampa, mas Curitiba perdeu sua baita sensibilidade. Te amamos...Tá e Fer

Anônimo disse...

Amadasssss, obrigada pelas palavras,o outro texto por hora ficará entre nós ( uma coisinha a mais, rsrs)!!

Anônimo disse...

Se não é nova, quais são seus antigos posts? E viu, como também concorda que não existem, já que a beleza está nos olhos de quem enxerga?