sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Carta À Mãe



Olá mãe, tudo bom? Puxa vida, como é complicado ficar sem Internet e celular, e nem ter dinheiro para ir a uma lan-house. Ainda bem que os correios estão por aí né? Salvando a vida daqueles que não tem muita grana... enfim. Pelo menos agora você não vai mais duvidar do meu amor por você né, mãezinha? Imagina, quando é que eu iria escrever uma carta para alguém? Hem? Nunca, pois é.
Então, deixa eu te contar o que aconteceu comigo ontem. Lembra que eu te falei que tinha conseguido um emprego novo, bem legal, na minha área, trabalhando como roteirista em uma agência de comunicação?
Eu comecei ontem lá, e nossa, mãezinha do céu! Que maravilha que é! Logo no primeiro dia, eu já tive que escrever 3 roteiros para comerciais... e o melhor: é SUPER perto de casa. 2 quadras só... vou andandinho, bem tranqüila. Sem contar a paz que é saber que não vou precisar andar de ônibus todos os dias né?
Enfim, deixa eu te contar logo o que aconteceu. Eu tinha acabado de sair lá da agência, estava toda feliz com meu primeiro dia de trabalho, etc... Já tinha escurecido um pouco sabe? Eram umas 6 e 15, por aí... Eu atravessei a rua, e fui pegar meu celular pra te ligar e contar tudo, quando uma moto parou um pouco à frente. Era uma ruazinha estreita, bem tranqüila e de só uma mão. Foi isso que estranhei... a moto tinha vindo na contramão e parou assim, do nada, ali perto de mim. E daí tinham 2 caras na moto, vestidos de preto e com capacete, um deles desceu e veio na minha direção. Eu já estava com o celular na mão, discando seu número, quando notei que ele estava querendo falar comigo. Não entendi o que ele dizia, então imaginei que ele me perguntava as horas. Mal tive tempo de olhar o relógio. Ele já tinha arrancado o celular da minha mão, e estava tentando puxar a minha bolsa. A MINHA BOLSA MÃE, AQUELA LINDA, VERMELHA DE BOLINHAS BRANCAS. E lá dentro, estava meu NETBOOK, mei IPOD, meus livros, minhas maquiagens, documentos, cartões, dinheiro, TUDO MÃE!
Fiquei desesperada. Olhei bem pra ele (tentei adivinhar aonde estariam os olhos por trás daquele vidro fume do capacete) e me esforcei para fazer a melhor cara de pobre coitada possível, e disse:
- Não, moço. Por favor, não faz isso.
Não adiantou, claro! Ele me empurrou, pegou a bolsa, voltou para a moto e saiu em disparada com seu parceiro, sem nem ao menos olhar para trás.
Fiquei ali, estática, me sentindo nua sem minha bolsa e sem minhas coisas. Quando pensei em choramingar, coloquei a mão nos bolsos e senti algo. Era um isqueiro... e mais no fundo, uma moeda de R$ 0,50. Fui numa banquinha que tinha ali perto, comprei um cigarro solto e sentei no meio fio. Fumei o cigarro inteirinho em menos de 5 minutos, e voltei para casa, pensando em você mãezinha. Em como seria bom se você estivesse ali comigo, para eu chegar em casa e você me fazer aquele Nescau batido.
Mas eu tô bem né? Isso que importa ...
Bem, a folha tá acabando e meu caderno também foi roubado. Tenho que ir.
Mil beijos pra você e pro Marcelo.
Amo vocês.







Letícia Mueller

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