terça-feira, 23 de novembro de 2010

Pobres meninas



Desde pequena, Rita era motivo de chacota. Feia, desengonçada, com andar torto e dentes encavalados, não agüentava nem mais colocar os pés na escola. E no colegial, não foi diferente: De longe e de perto, ouvia e assistia sua difamação. Já sua irmã, Raira, era linda, amorosa e inteligente. Todos queriam seus conselhos, sua ajuda nas tarefas e a doçura dos seus lábios.
Os anos se passaram: Rita não ganhou festa de quinze anos, viagem, carro e nem atenção dos pais e da família, mesmo dois anos depois passando no curso de medicina. Nem um beijo tivera dado na vida. Já Raira ganhara uma linda festa branca e rosa de quinze anos e um carro aos dezoito por ter conseguido seu primeiro trabalho em uma novela na sua cidade. Além disso, viajava só com se lindo namorado, quando bem quisesse.
Mas um belo dia, Rita e Raira tiveram um único evento semelhante em suas vidas: a morte de seus pais que lhe deixaram uma gorda e pompuda herança que era guardada por gerações ao longo da família. A quantia era tanta que nem mesmo elas imaginavam, e daria para parar de trabalhar pela vida inteira, viajar, morar fora, comprar empresas ou investir em negócios. Agora, as duas tinham o mesmo poder, o mesmo valor em suas mãos.
Rita, ao invés de jogar tudo para alto e fazer tudo que não fez, poderia ter viajado, arrumado os dentes, “comprado” quantos homens que quisesse e até mesmo parado de estudar. Mas ao invés disso, investiu em obras sociais, em projetos odontológicos para crianças da periferia que nunca teriam acesso ao dentista, para pessoas com dificuldade de andar e se locomover, entre outros. Estudou o máximo que pôde e viajou por vários países para mostrar suas teses e pesquisas que fez. Com isso, conheceu um médico lindo e também rico, e juntos construíram impérios, que beneficiariam diversas pessoas. Já Raira, quis viajar mais, quis mais homens, quis aparecer em mais lugares, e assim, caiu no ridículo, ficou mais gorda, feia, sem homens e ainda por cima, pobre. Essa é a diferença do poder do dinheiro nas mãos daqueles que sabem ou não usá-lo.


Bianca Nascimento

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