segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Iminência


Quanto vale uma perda? E de antemão aviso que não estou falando em danos morais. Mas quanto vale a perda de alguém que amamos, de uma coisa que muito desejamos, uma oportunidade aguardada, quanto vale um momento desperdiçado?
Que o tempo não volta atrás já sabemos, que temos que aproveitar cada dia de nossas vidas também sabemos, e que devemos amar as pessoas e usar as coisas, são coisas repetidas sempre e principalmente nesse contexto humanitário que se manifesta, mas perdas são sempre perdas e são sempre dolorosas.
É claro que a dor varia em cada pessoa, em cada circunstância, perder o emprego, perder um anel de ouro, perder o namorado e perder para a morte, são por igual perdas, mas diferentemente valoradas. A perda é tão relativa,que talvez seja o ser humano relativo demais, a ponto de relativizar as perdas, posto que no âmago de cada um a perda tem sua valoração única e inestimável.
Mas antes de perder há um sentimento pior: a iminência, esse medo de perder alguma coisa ou alguém que amamos faz-nos cometer loucuras por vezes incometiveis em sanidade, adquirimos força, fé, coragem, nos apegamos e deixamos de lado, agimos irracionalmente, tudo na expectativa da salvação, do incerto, no desejo de manter a realidade anterior, de evitar que o futuro aconteça. Sentimos vontade de congelar o presente ou retornar ao passado, e, inevitavelmente isso não acontece, mesmo que os gestos se concretizem e os sentimentos aflorem, na maioria das vezes somente quando a iminência da perda é catastrófica.
Por vezes temos a sorte de como num lapso de loucura, parecer que conseguimos ajustar os acontecimentos, outras vezes o destino nos prega peças e traz-nos uma nova realidade, diminuída, em pessoas, em tamanho ou em coisas, uma nova realidade incompleta que nos obriga a pensar no passado, a lamentar a tentar voltar atrás e evitar, implica na vontade de fazer tudo diferente., ou ainda tem gente que segue adiante sem olhar para atrás.
Ainda que o medo da perda nos tenha feito prometer céus e terras - e cumprir cada promessa já depende da consciência de cada um - ou talvez nem tenhamos o tempo de sentir o medo da perda e ela apenas aconteça, abalados ou não, melhor pensar que tudo ocorre no momento e na maneira em que deveria acontecer.


Fernanda Bugai

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