sexta-feira, 26 de novembro de 2010


Super poderes – um convite para a prática!


Estava “fazendo hora” na recepção do hotel, já havia feito o check out e esperava o traslado, aborrecida lamentando mentalmente que não poderia trazer uma lembrança daquele local, que embora simplório era simpático, pois era meu último dia ali, e na correria dos compromissos o lazer havia sido relegado a segundo plano, quando aquela pequena lojinha, do outro lado da rua, saltou-me literalmente aos olhos.

Digo literalmente, porque um brilho de cristal atravessou “marotamente” a recepção e começou a brincar no meu rosto incomodando-me. Uma hora fugia, outra brilhava intensamente cegando a visão. Incomodada, resolvi mudar de lugar, sentando-me em outro sofá, daqueles que você se deixa cair e não quer levantar. Mas o brilho achou-me novamente, e por simples pirraça, agora projetava pequenos desenhos, ora de flores, ora de estrelas, as vezes de luas.
Intrigada com aquela ofuscante demonstração, olhei a volta para ver se mais alguém havia notado ou sido agraciado com aquele “show de luzes”, e todos pareciam que nem sequer haviam percebido qualquer coisa. Olhei o recepcionista, sendo muito solícito com uma senhora idosa, a arrumadeira passando pela recepção atarefada com algum afazer, o porteiro dando boas vindas, alguns hospedes lendo o jornal, e nada.

E o brilho, que havia acompanhado o meu olhar de indagação, voltou intenso em minha direção, pois em nenhum minuto sequer havia se desviado, apenas aguardava a minha constatação de que eu era o seu alvo. Encareio. Nos olhamos intensamente, eu inebriada por suas cores e formas, ele parecendo fascinado pelo meu olhar. Levantei-me automaticamente, como quem é puxado por um imã. Atravessei a recepção, cruzei a rua, e parei diante da vitrine. Tudo sem perceber ou titubear. Ainda fascinada pelo brilho que me conduzia, abri a porta da lojinha, que emitiu um delicioso som anunciando a minha chegada e entrei.

A senhora sentada a um canto, olhava-me com um sorriso nos lábios e um ar de sabedoria, apenas observava enquanto eu caminhava em direção ao brilho. Toquei a luz como quem toca algo muito frágil e delicado, senti um calor intenso tomar conta de mim, fechei os olhos e perdi-me. Dentro de mim havia um redemoinho de sentimentos, emoções, confusões, certezas, dúvidas, alegrias, prazeres e finalmente a paz. Quando finalmente abri os olhos, pude sentir que eu já não era mais a mesma que entrou por aquela porta, olhei ao redor e percebi novas cores, aspirei novo ar, senti calafrios e calor ao mesmo tempo, flutuei ao redor de mim e voltei ao chão.


Estendi meu olhar, agora sereno e senhor de si, em direção a velha senhora e ela apenas balançou a cabeça em sinal de “agora está feito”, “não existe garantia de sucesso”, “não há como se libertar”, os super poderes são seus para o bem ou para o mal.
E agora, com os olhos de nova sabedoria e surpresa constatação percebi que na realidade, eu tinha os super poderes o tempo todo.
Eu podia construir um castelo com um simples toque.
Eu podia confortar com uma doce palavra.
Eu podia retribuir um gesto de amor com outro.
Mas também podia destruir com um gesto imperdoável, uma ferina palavra, uma ação cruel.
E a velha senhora mais uma vez olhou-me, murmurando agora: - Todos nós temos super poderes para o bem ou para o mal, depende só de você.



Kate Jones

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