quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Despedida de solteira?

- Acho cafona! - Como diria o fake do Victor Fasano no Twitter (se vc não sabe do que eu tô falando dê uma olhada nas matérias sobre o assunto que bombou o sistema de microblog há algumas semanas - aqui e aqui)

O fato é que não curto "loucuras programadas" e "obrigatoriedade de lazer/diversão", que é exatamente o que me parece esse termo, mais ou menos como o carnaval no Brasil que é "o momento em que TODOS supostamente devem ter obrigação de se divertir". Como se já não bastasse a obrigação de casar, ainda tem que ter a tal festinha. Ah, me poupem!!! Sério, vivemos em uma sociedade tão absurda e vigilante (momento foucaultiano descontrol) que até os desvios - como uma suposta "traição" - precisam ser normatizados e colocados dentro de caixinhas. - Sim, nesse dia pode, no outro não. Acho isso muito, muito chato. Essa obrigação de sermos padronizados pra fazer tudo dentro dos conformes ritualísticos sociais.

Hoje em dia somos obrigados a ser felizes e nos divertirmos o tempo todo, o que eu acho uma lástima, afinal, pelo menos pra mim, boa parte das grandes obras da humanidade tiveram um pouco de sofrimento incluso. Mas hoje não, é preciso regularizar tudo, do peso à última trepada pré-casamento.

O que eu acho mais irônico nisso tudo é o velho dois pesos, duas medidas. Vejam bem, se a pessoa vai "pular" carnaval fantasiada ai é ótimo, lindo, afinal estamos no país mais animado do mundo, tropical, e todos aqueles clichês que sempre ouvimos; agora se ela faz cosplay de star wars ou de anime, daí é "esquisito"; se o cara é simplesmente doente pelo seu time de futebol, dai é um hobbie, mas se ele for fanático por RPG ou games dai é nerd.. eu poderia seguir com essa lista por linhas e linhas, mas não é necessário. É exatamente assim que eu visualizo a tal despedida de solteiro(a).

Na real, esse tema até me pegou meio desprevinida, dado que o último casamento que fui aconteceu em 2001 e minha amiga já até se divorciou, aliás foi um dos únicos casamentos que eu fui na vida pq ela é quase uma irmã, só por isso - tirando os dos meus irmãos que era obrigação familiar e eu era criança. Desde então, a grande maioria dos meus amigos/as não fez nenhum tipo de cerimônia (ainda bem!) e os poucos que fizeram não me convidaram por saberem da minha antipatia pelo evento - que inclui também noivados, batizados, chás de panela, chás de fralda, etc etc rs. É o tipo de coisa ao que eu passo batido. E não é pra fazer gênero não, me sinto deslocada nesse tipo de coletividade, não é pra mim que sou um serzinho pra lá de misantropo e sem fé nessa categoria social e culturalmente construída chamada humano.

Não tive a tal despedida de solteira simplesmente porque no meu estado civil continuo solteira hahaha, mas, piadinha infame à parte, não encaro o casamento com essa pompa e circunstância de "para sempre" e nem como esse monte de obrigações, embora algumas delas inevitavelmente existam com em qualquer tipo de relação (trabalho, amigos, etc). Enxergo o relacionamento a cada dia, um dia após o outro e não como uma espécie de abatedouro para o qual vamos entregar nosso pescoço de vaca rs. É uma escolha e plenamente reversível quando não for mais do interesse de alguma das partes. Vai ver sou pragmática demais e não consigo engolir esses comprimidinhos todos que nos deixam dentro da matrix. Existem fases e fases (dedicação aos estudos, trabalho, trocar de namorados cada semana, sei lá).. cada um é de um jeito e querer normatizar isso com esse tipo de ritual me soa a algo tão modernista, no pior sentido da palavra .

Lady A.

9 comentários:

Anônimo disse...

Carajo. Não sei se o tema é inspirador a abordagens subversivas, mas ontem já tinha me esbaldado com o raciocínio sagaz da Mazé em cima dele, e agora, Adri, você me vem com um texto desta categoria, tão bem colocado, lúcido e divertido que chega a ser desconsertante. Estou estupefato. Durante toda a leitura soa na cabeça um "é mesmo", fazendo a gente se sentir ridículo por não ter se dado conta de tantas colocações pertinentes, reais incontestes. Incrível como um assunto aparentemente inocente e até lugar comum foi capaz de render uma abordagem tão na contra-mão com este grau de coerência. Adri, irretocável. Seu olhar de raio x nas convenções sociais é uma provocação aos conceitos estabelecidos. Eles que se segurem, porque seus argumentos não têm furos.
Beijo, Desaforada Subversiva

Mario

Adriana Amaral disse...

Muito obrigada Mario, eu gosto muito desse exercício de colocar as coisas dadas como senso comum do outro lado da rede pra ver o q sai rs

Anônimo disse...

Adri, faço das palavras do Charles as minhas. Gosto da sua visão do mundo.
Verô

Anônimo disse...

Olá Adri,

Permita-me discordar da linha de raciocício ainda que eu concorde que a raça humana é mais complexa do que possamos imaginar.

Acho um pouco engraçado essa onda contra as convenções. Num certo sentido até parece "moderno". Por outro lado vi muita gente que quis praticá-lo até o momento que teve um tropeço na sua vida amorosa... e acabou mudando de opinião. É normal mudar de opinião, é humano, mas para um pensamento completamente paradoxal e distinto daquilo que se acreditava é porque algo muito relevante aconteceu ou não aconteceu em sua vida. Senão aonde estão as tuas convicções? Seremos todos rasos como um prato de sopa terminando?

Sobre RPG e Star Wars apesar de eu provavelmente ter a mesma opinião das pessoas que você está detratando (sorry) mas por outros motivos... Assumo q sou um ignorante em RPG e apesar de ter assistido a alguns star wars acho engraçado qualquer idolatria a qualquer coisa e ainda que um adulto usasse uma fantasia de um herói nacional (macunaíma, o herói sem nenhum caráter?rsrsrsrs) acharia estranhíssimo...

No mais e para finalizar (graças a deus!) o último bastião. Quando eu era adolescente (isso já faz uns aninhos) tinha a mesma opinião que alguns dos depoimentos colocados aqui. Tem muita gente interessante nesse mundo e se eu me interesso afetivamente ou sexualmente por elas, é porque talvez não esteja preparado para uma relação amorosa com uma só pessoa. Bullshit, in my opinion of course!
Isso é uma resposta cômoda para justificar a insegurança de encarar uma relação de frente (desde que você sinta firmeza nela).
É impossível se interessar por uma única pessoa no mundo se você não tiver disposição para isso. E quando isso acontecer, as pessoas que são interessantes não vão desaparecer do mundo ou transformar-se em bruxas ou monstros terríveis. Elas simplesmente não terão sido a SUA escolha.

W. Allen

Adriana Amaral disse...

VERÔ: thanks

W.ALLEN: acho q vc não entendeu o meu texto, justamente estou criticando o q vc falou, nao o casamento. 1) Não existe onda contr as convenções, bem pelo contrário, o q eu vejo é as pessoas cada vez mais conservadoras, e como eu ja falei nao tem nada de "moderno" nisso alias esse termo é inadequado, seria pós-moderno pq modernas são as convenções. 2)não é questão de idolatria, é uma questao de estilo de vida, essa ideia de idolatria é bem ultrapassada nos teoricos que tratam sobre os fãs e a cultura participativa, eu escrevo sobre isso, e acho q vc deveria ler henry jenkins pra perder seus preconceitos, eu usei esses ex pq sao proximos a minha realidade, mas poderia ter citados outros
3) sobre mudar de idéia, é normal qqer um pode, ainda bem q tenho um marido q pensa exatamente como eu, por isso ele é realmente mysoulmate enqto durar e olha q ja faz 5 anos, somos ambos outsiders em nossas visoes de mundo e estilos de vida e é por isso q da certo e por isso q eu falei das escolhas exatamente a msma coisa que tu, mas já vi que gostas de discordar so por discordar, anyway,

Anônimo disse...

Adri,
Eu concordo com muitos dos seus argumentos mas alguém que diz " não bastasse a obrigação de casar, ainda tem de ter a tal festinha" não me parece ter uma bela visão do que seja o casamento.

Sobre modernidade e pós modernidade e "idolatria e estilo de vida" não vou me aprofundar pois você é a técnica (e eu o palpiteiro) e os conceitos foram feitos para "confundir" as pessoas mesmo. rsrsrs. Por exemplo eu sou de Recife (apesar desse nome Inglês) e lá os carpês aqui de ctba (carpetes em São Paulo) se chamam alcatifas eu acho. Quanto nome para uma coisa só, não? Mas o importante é que todo mundo se entende.

W.Allen

Anônimo disse...

Essa frase q tu citaste foi dita dentro desse tipo de contexto casar com festa, bolo, vestido branco e despedida de solteira, o pacote q a maioria dos mortais acha tão bacana, só isso! Eu já vi pessoas cederem a isso só pq o pai, mae, a familia ou sei la mais quem achava q era bom (nesse sentido ate falei dessa amiga ai q divorciou). Não tenho uma visão idealizada do casamento, tenho uma visão pragmática mas não é menos bela. Pra mim quem precisa se afirmar demais mostrando pra td mundo "olhem como sou feliz" rs já tem alguns probleminhas, pq nenhum casamento é fantastico e lido 24h por dia. Tem coisas muito boas e coisas chatas tb. Só q pra saber se a gente ta feliz, tem q pesar e ver o que ainda é melhor, mas nao por comodidade, por escolha. É o que eu acho e o q eu tenho vivido nesses meus anos de casada. Enquanto eu continuar tendo piadinhas internas e objetivs em comum com meu querido - entre outras coisas nao publicáveis, é pq a relação está bem. Só nao preciso ficar mostrando isso aos 4 ventos, afinal nao tenho q provar nada pra ninguém.
abs
A.

Anônimo disse...

Olá Adri,

Fechou bonito nosso embate de idéias. Minha intenção aqui, de vez em quando, é tentar trazer outros pontos de vista, discordâncias específicas pra que possamos debater e enriquecer esse debate. Ao mesmo tempo, muitas vezes fico verdadeiramente encantado com alguns textos e apenas os elogio se não tenho nada a dizer.

Ao comentar o seu texto em particular quero dizer "ei, vc tocou em pontos interessantes. Vamos aprofundar alguns deles?"
Espero que vc não tenha ficado chateada por qualquer motivo. A minha visão das pessoas que escrevem em um Blog é total liberdade para defenderem o seu ponto de vista, o mesmo para seus leitores opinarem. Com respeito, bom senso, gentileza e educação.

Obrigado pela sua participação especial.

W.Allen

Anônimo disse...

Um ultima coisa, minha intenção evidentemente é dabater idéias in general e não situações pessoais (como vc diz e concordo, ninguém está aqui a provar algo para alguém e acrescentaria " abrir a sua vida pessoal" - só quando desejar e no espaço que desejar).Ponto final.

W.