quarta-feira, 31 de março de 2010

Natércia E Suas Confissões


Natércia era uma menina travessa e sapeca, daquelas que sempre aprontam e vão parar na diretoria da escola. Ela só diminuiu as suas peripécias no último ano de catequese. Nos últimos quinze dias destas aulas religiosas a catequista preparou a turma para o ritual da confissão. Então no meio da explicação Natércia levantou o dedo e comentou:
- Professora, tenho tantos pecados que temo esquecer de falar todos ao padre.
Deste jeito a mestra explicou:
- Para isto há uma solução:
- Anote todos os pecados que lembrar num caderno e leia as páginas ao vigário na hora.
Após esta aula, a garota foi até uma papelaria e tratou logo de comprar um caderno com cem folhas. Naquele mesmo dia ela tratou de escrever todos os seus delitos neste livreto .
Quando chegou o famoso dia, as crianças fizeram fila para entrar no confessionário. Logo chegou a vez de Natércia que penetrou com o seu caderno na mão.
Assim o padre falou:
- Deus a abençoe, minha filha!
- Fique à vontade para falar sobre os seus pecados.
Deste jeito a garota disse:
- Boa-tarde, seu vigário!
Como tenho muitos pecados anotei todos neste caderno. Agora vou ler:
- Segundo a minha mãe cometi o primeiro pecado ao nascer. Pois chorei e fiz cara a feia aos médicos presentes.
O sacerdote interrompeu:
- Isto não é pecado!
- Pois pecado a gente só comete a partir dos sete anos.
A menina espantou-se:
- Sério?!
- Bem, assim pularei umas vinte páginas do meu caderno e contarei somente os erros que cometi a partir dos meus sete anos de idade:
- Na minha primeira série joguei uma borracha na cabeça do Pedrinho, dei uma “lancheirada” na cabeça da Mariazinha e coloquei um rato dentro da gaveta da professora.
- Nesta mesma época meu padrinho tinha um canário na gaiola. Mas como a minha catequista disse que manter passarinhos na gaiola era um pecado, eu esperei o dono sair de casa, entrei no quintal e soltei a ave da prisão. Porém quando falei o que tinha feito para a professora, ela disse que quem cometeu pecado fui eu.
Bem, a partir daquele momento Natércia contou mais de cem pecados que tinha cometido. Mas pouco a pouco o padre pegou no sono sem a garota perceber, pois ela apenas lia o que havia escrito nas párginas. Quando ela acabou de ler a última folha, olhou para os olhos do padre e exclamou:
- Vigário, eu acabei minha confissão!
- O senhor está dormindo?!
O sacerdote acordou assuntado e explicou:
- Eu não estava dormindo, eu só estava meditando.
- Por favor, reze trinta pais-nossos e trinta ave-marias. Quando alguém carente bater na porta da sua casa não se esqueça de dar esmolas.
- Eu absolvo os seus pecados.
Natércia saiu contente de sua confissão e foi rezar. Assim ela pensou:
- Eu li um caderno inteiro com muitos pecados meus ao pároco e pensei que ele me mandaria rezar mil orações. Porém se a minha penitência é amena, isto é sinal de que não pequei tanto assim.
Oito anos se passaram após este episódio, Natércia transformou-se em uma jovem e durante este longo tempo nunca mais ela confessou os seus pecados. Uma certa noite, ela dormia em seu barraco. Quando, de repente, cinco homens mascarados e armados invadiram a sua casa. Eles colocaram a garota no porta-malas de um carro e a levaram para o meio do mato. Lá eles começaram a bater na pobre e a gritar:
- Confessa!
- Confessa!
- Se quiser parar de apanhar é melhor confessar logo!
A menina gritou:
- Confessar o que?
- Eu nem escrevi um caderno com a minha lista de pecados!
Deste jeito um dos marginais berrou:
- É melhor confessar logo, senão sua boca amanhecerá cheia de formiga.
Desta maneira a moça falou:
- Tudo bem eu confesso:
- Só sei que nada sei!
Assim o outro pistoleiro gritou:
- Que palhaçada é esta?!
A donzela explicou:
- Isto não é palhaçada...
- É Filosofia!
- É Sócrates!
Após falar estas palavras a moça recebeu cinco tiros, morreu e ficou estendida no chão. No dia seguinte um casal de agricultores, que estava passando naquele local, viu o corpo de Natércia estendido no chão. O homem aproximou-se da garota e disse:
- Ela está morta e levou tiros.
A sua esposa comentou:
- Pelo jeito esta tinha um caderno de pecados para confessar.





Luciana do Rocio Mallon

Um comentário:

Psi Ana de Paula disse...

É ISSO AI LUCIANA!!!
COMO SEMPRE SEUS POEMAS SÃO TD DE BOM..CONTINUE ASSIM..ESTA NO CAMINHO CERTO..BJIM KERIDA!!!