terça-feira, 23 de março de 2010

Um Olhar


É estranho pensar e expor este pensamento, mas...tenho que dizer. Tem algo que acho muito estranho no mundo, nas ruas e principalmente, nas pessoas. Já notou que quando acordamos a maioria de nós, geralmente, fica mal humorado, não olha muito para cara de ninguém em casa...quem dirá para o pobre cãozinho que fica a sua espera na porta todos os dias. Aí a maioria sai, ou para estudar ou trabalhar. No caminho rumo ao destino, a mesma coisa: paramos nos sinaleiros, olhamos para o espelho, vasculhamos a bolsa para ver se aquele cartão está lá dentro ou para ver algo no celular. Não olhamos a rua, as pessoas, os enclausurados nos ônibus que param à nossa volta. E os enclausurados são a mesma coisa: não apreciam a paisagem de dentro da lata, nem mesmo olham para o cabelo super produzido daquela senhora acabara de sentar ao seu lado no banco. O único momento que voltamos a olhar para o que está lá fora é quando o sinal abre.

Passam tantas árvores, pássaros, cenas engraçadas, pessoas inusitadas, crianças sorrindo aos montes. Não temos nem tempo de olhar para os cães nas calçadas, os gatinhos nos muros das casas. Mais deixamos pra ver isso em casa, vendo na TV com “aquela pipoquinha”.

Chegamos ao destino. Mais uma vez entramos e sequer nos lembramos do porteiro do prédio ou de quem está na porta de onde trabalhamos e estudamos. “Não tenho tempo, não é por mal”, pensamos, como se um sorriso durasse meia hora.

No elevador, nem fale...melhor nem citar o que acontece. Saindo da lata, corremos direto para a cadeira cotidiana e lá nos “fincamos”, nos escondemos e vivemos boa parte do dia. “Não tenho tempo nem de olhar o pássaro voando da janela”, pensam os atarefados. Damos “oi” pra colegas do trabalho, fazemos as mesmas piadas, temos as mesmas conversas.

Chega a hora do almoço, trocamos de cadeira. O tempo é curto...uma hora para comer, ir no banco, na farmácia se der. “Ou eu como ou eu converso”, é o que alguns pensam ao passar o horário de almoço com colegas ou com a família. Não conseguimos nem enxergar o pobre na esquina comendo o que lhe resta, o cão virando o lixo pra ver se algo tem pra ele.

E assim, passamos nosso dia. Sem tempo, sem tempo de olhar, sem tempo de ver. Não enxergamos as crianças, os pássaros, os cães, as árvores, os jardins, os sorrisos, os olhares. Não enxergamos o dia. Voltamos, dormimos. Afinal... “Você acha que não faço nada? Ás vezes nem tempo de dormir eu tenho!”. E mais uma vez fechamos os olhos.


Bianca Nascimento

4 comentários:

Anônimo disse...

aloha Bia
realmente nos entregamos a nossa rotina, a rotina imposta pela sociedade, quem faz o tempo somos nós mesmos, a vida é simples, nós que a complicamos a cada dia que passa, e ai se não correr...pode perder o horário...elevador lotado, onibus cheio...transito infernal,etc...mas nem sequer apreciamos o cantar de um passarinho, ou até mesmo o clarear do dia, nos tornamos robôs a cada dia que passa, e quando pensamos,"quero aproveitar a vida", aih é tarde demais pq tem que ir ao hospital fazer exames...ah e não esquecer de passar na farmácia pq a velhice chegou até nós....eta vida hein...voou e nem apreciamos nada...podemos mudar???

!lili! disse...

olá... SIM, podemos e DEVEMOS mudar.
Será muito proveitoso, terá outro gosto e garanto... não vamos perder em nada. Muito pelo contrário, vamos nos surpreender do quanto realmente podemos fazer, até onde podemos olhar.... teremos mais e mais energia. E tudo será mais intenso... Gostei do texto. Deu um click...
Beijos ;)

Anônimo disse...

Putz, a penúltima frase parece minha. rsrs
Beijo, Bilaquinha.

Mario

Karime disse...

Guriaaa! Hoje mesmo estava comentando com meu namor que é tão bom quando ando de carona com ele e vou observando as ruas de Porto Alegre, as pessoas, os gestos, as roupas,os prédios comerciais, os acontecimentos... Agora que vivo na rua, dirigindo, sempre correndo, no celular, na estrada federal, não tenho tempo prá nada, nem de escrever pro blog. :( Nunca apreciei tanto andar de carona!
Beijos!