domingo, 6 de abril de 2008

Pequenas Causas Virtuais


Que às quinze horas e trinta e quatro minutos do quarto dia do mês de abril do presente ano de dois mil e oito compareceram a este tribunal Janaína Agracio dos Santos e Erivel Germano dos Santos, sob pretexto de acusações mútuas de traição, exibicionismo e danos morais, sendo ainda reclamantes de divórcio.
Que Janaína acusa o esposo de traição e atentado violento ao pudor, não a ela própria, visto que é esposa, mas sim a terceiros. Que, segundo afirma, o marido utilizou-se da webcam do computador pertencente ao casal, localizado na sala da residência que ambos habitam desde o enlace matrimonial, para praticar ato libidinoso com pessoas que a reclamante afirma desconhecer.
Que Erivel admite ter sim exposto sua genitália na webcam para um grupo de internautas. O acusado, contudo, contra-argumenta que praticou o ato libidinoso em retaliação à traição de sua cônjuge, alegando que era ela que utilizava a Internet para se exibir. Que descobriu o hábito da esposa em ocasião na qual Janaína ausentou-se do lar com urgência, deixando o equipamento com a ferramenta de diálogo denominada messenger aberta. Que ao se aproximar do computador, o esposo viu na tela mesuras e galanteios de baixo nível (os quais prefere não citar por considerar extremamente impróprios para o ambiente deste tribunal) por parte de vários homens conectados à Internet, solicitando que a mulher lhes exibisse as partes pudentas – ato que supõe ocorrer rotineiramente, visto que considera excessivo o grau de intimidade com que os internautas se comunicavam. Tendo sido acometido de grande grau de ira e descontrole, Erivel ligou a webcam e, para surpresa dos interlocutores virtuais, abaixou as calças exibindo seu pênis.
Que Janaína complementou o relato de Erivel afirmando ter voltado à casa por conta de haver esquecido seus documentos, flagrando o marido em pleno ato mas sem causar alarde. Que, aproveitando-se do fato de ele não a ter percebido entrando na casa, fotografou-o escondida, fazendo registros de Erivel se exibindo para usar as imagens como prova de seu relato (em anexo a este processo).
Que Erivel afirma não terem sido as imagens utilizadas apenas como prova de uma suposta traição, mas que a esposa as espalhou pela Internet, causando grandes transtornos morais a ele nos ambientes profissional, social e familiar.
Que Janaína afirma serem infundadas as acusações do marido a respeito de traição, visto que nem ao menos possui conta para acesso ao programa messenger. Que o marido a contradiz, informando que a conta inclusive tem um pseudônimo insinuante para disfarçar o nome real: divalaureada@hotmail.com. Que a esposa novamente rechaçou as acusações do marido, alegando que diva laureada nunca foi apelido seu, mas sim de sua mãe.
Que neste momento o casal teve um rompante de histeria, saindo da sala apressado e aos gritos, deixando seus advogados sem reação e dando por encerrada a sessão.
Mario Lopes

17 comentários:

Rodolfo disse...

Muito bom, Marião.
Do jeito que as coisas andam, os casais "mudernos" vão requerer computadores separados (a privacidade é um direito de cada um afinal, não é?) , assim como fizeram com os banheiros separados e os mais "mudernos" com os quartos separados.... assim garante-se a desejada "independência" para que os pequenos prazeres individuais possam ser praticados em sigilo... rsrsrsrsrsr

Esse mundo é muito louco mesmo. Veja que as praticantes do sexo virtual já solucionaram uma das principais queixas da mulherada. A de que faltam homens no mundo. Pelo que percebi o povo tá aderindo forte a essa tendência virtual e não precisam nem mais de nós....Basta assumir um personagem na NET e tá tudo resolvido. Não depende mais do sexo, não há grandes tabus, os diálogos são cada vez mais "nervosos" e o povo até consegue gozar e ser feliz com rápidez e no seu próprio aconchego do lar...................................................

Mundo triste esse, hein?

Eu fico com o Roberto, o Rei. "Eu sou aquele amante a moda antiga do tipo que ainda manda flores..." rsrsrsrs

rodolfo

Adriana Amaral disse...

muito bom o texto Charlie!!! fiquei imaginando a cena toda no tribunal :)
eu li recentemente sobre um caso em que um casal se divorciou pq ambos estavam traindo (e nao sabiam q era um com o outro ) hahaha

Anônimo disse...

Que mundo triste, que nada, Rodolfo. Como eu disse na respectiva enquete da comunidade das Desaforadas, sexo é bom até por código morse:
http://www.orkut.com/CommPollResults.aspx?cmm=45102969&pct=1207030726&pid=182657549
Até oxigênio é canal para o sexo. Além disso, cyber sex é uma forma muito excitante de exercitar o mais importante órgão sexual do corpo humano: o cérebro.
Estou plenamente de acordo com os dez motivos de praticar cyber sex colocados pela Mopi (quem não leu, que desça até o post da Valentina de Botas). Já escrevi contos eróticos (sob pseudônimo, claro) num blog de cyber sex, e fico muito feliz em saber que devo ter proporcionado prazer a um sei-lá-que-número de mulheres. É mais uma modalidade, e que seja bem-vinda. Se descobrirem outras (sexo telepático, por exemplo) estou aderindo prontamente. Não sou um entusiasta absoluto (tem suas contra-indicações) nem acho que substitui a relação carnal, mas que é divertido, criativo e ilimitado, não há a menor dúvida. Quanto ao Rei, nada contra, também é legal ser amante à moda antiga... e depois à moda moderna, e depois à moda praia, e depois à moda neoclássica, e depois à moda pop, e depois á moda retrô de novo e etc e tal. No mundo físico e no virtual. Afinal, convenhamos, onde esse cara impera a plebe ainda faz sexo pelo furo do lençol, né. :-)
E viva as nossas discordâncias, Rodolfo, porque sempre é legal trocar opiniões contigo, até sobre assuntos em que divergimos tão drasticamente. Aliás, se todo mundo concordasse comigo, a web estaria interditada nos horários de pico (e desculpe o duplo sentido da palavra hehe).

Charlie

Anônimo disse...

Adri, essa história é realmente incrível, mas conheço uma ainda mais impressionante. Daquelas que fariam você achar excessivamente inverossímil. Mas eu não vou contar, não, porque deixo isso por conta da Verônica. Tá contigo, Verô.

Charlie

Anônimo disse...

Ok, vamos lá:
Era uma vez um casal que após a separação não mantinham um contato minimamente sociável. A mãe da estória não se ligava que sempre estaria presa a seu ex, afinal tinham três filhos juntos e que no natal, batizado, casamento, aniversário entre outros deveriam se suportar pelo bem comum.
Não satisfeito com isso o pai da estória ao saber que sua respectiva ex estava doente pela web, inventou uma personagem. Um Italiano bom de papo que virou seu namorado virtual. A tal ponto que ele morando a 500 kilometros da casa de seus filhos, ficou sabendo que sua filha mais velha tinha batido o carro antes da do meio tomar conhecimento, esta que morava na mesma casa. Assim ele gerenciava a casa e a vida de seus filhos aconselhando sua namorada em sigilo. Mas a paixão era tanta que ela insistia em conhecê-lo, para isso teve que inventar que era leproso e coisa e tal. Até que sua idéia genial foi virando fumaça.

Verô

Anônimo disse...

Como diria o título daquele filme: "Mais estranho do que a ficção".

Charlie

Rodolfo disse...

Marião,
Para iniciar a polêmica da semana, não posso mais uma vez concordar contigo. Sabe porque? Porque sou humano, demasiado humano.
Até toparia trocar carinhos pela web com minha parceira distante, por um único motivo: eu a conheceria, eu saberia com quem estou falando e de tudo o que estou falando e citando ou admirando.
Essa estória de exercitar os neurônios para se satisfazer sexualmente é para mim, coisa de paranóico, gente como o unambomber que por não se reconhecer na sociedade prefere o conforto de uma caverna na montanha com seus amigos animais. O nosso tarzã solitário....
Quer fazer sexo com estranhos? Vá para a night, faça a sua escolha e ponha em prática. Assim vc sente tudo, não fica só com um sentido em prática. Não é melhor?

Veja o exemplo que vocês mesmos em dobradinha deram, se entendi a estória direito. As pessoas se conheciam e conseguiram se apaixonar de novo tendo se separado. Pela Web. Não teria sido possível fazer o mesmo na vida real?
É evidente que sim, embora eu tenha uma teoria bem particular que diz " tem coisas que só dizemos no MSN". Esses dias me disseram que não achavam isso de mim. Que eu parecia ser a mesma pessoa.
Espero e torço para que ela esteja certa.

Viva a pegação real!

Abs

Anônimo disse...

Salve, Rodolfo.
Bom, devo deduzir (e tenho certeza que você não teve intenção de ofender) que eu não sou tão humano quanto você. É que está havendo um pequeno equívoco, Rodolfo: o fato de cyber sex ser feito através de um máquina não torna o processo mecânico. Muitíssimo pelo contrário: ele é muito mais humano, sensível e estimulante do que a relação de muitos casais monogâmicos unidos há anos. Não por acaso, surgem muitas matérias de homens e mulheres que flagram seus pares em tórridas sessões de amor na Internet. Repare, estamos falando de casais de carne e osso, que dormem na mesma cama e, mesmo assim, preferem dividir seu tempo e seus hormônios com gente do outro lado da tela de um computador. E a estatística de que muitos praticantes dizem ser esta modalidade de sexo mais satisfatória do que a “real” também conspira para o fato de que ela não pode ser uma simples transferência mecânica e fria de tesão. Repetindo: não substitui o sexo carnal, mas é muito bom e pode, em certos momentos (e dependendo da parceria), até superá-lo. No caso de pessoas que trabalham com criatividade (e me enquadro neste grupo) é realmente uma experiência divertidíssima. Por exemplo: se eu já curtia escrever contos sozinho, imagine o exercício de fazê-lo a quatro mãos e em cima de um tema tão excitante. Qual o problema disso? E não se trata de uma divisão de sexo real e sexo virtual. O sexo virtual é real. Já vou explicar melhor esse raciocínio, que para mim é óbvio, caso contrário masturbação também se enquadraria como sexo virtual.
Uma vez o José Simão disse que o telefone é o canal mais íntimo de contato entre duas pessoas, porque com ele o único elo é a voz. Pois a web é ainda mais íntima, porque o único contato que temos é o pensamento. O que você está lendo aqui é muitíssimo mais direto do que numa situação real, porque nela haveria as expressões faciais, a dissimulação e outros recursos que fazem do pensamento um fator secundário ou até terciário. É comprovado que, em uma conversa pessoal, quem fala e como fala são fatores que assumem peso superior àquilo que é falado. Já na web é o pensamento puro e livre, sem filtros ou mecanismos para maquiá-lo. Não é fator primário, é o único.
Lembra de Cyrano de Berjerac? Então, aquilo é web pura: uma mulher que se apaixona pelo pensamento e pela alma de um homem. Ela fica enamorada pela forma como ele lapida as palavras. Já o homem físico (que tenta se passar pelo real poeta) lhe é uma traumática decepção. Não porque ao se revelar ele se mostra feio, pelo contrário, é um galã. Mas não tem a habilidade com os versos, com a condução do romantismo narrativo, com o atingimento do âmago de uma mulher, que eram dotes do próprio Cyrano, o ghost writer que ela desconhecia. E isso é muito mais profundo do que uma relação sexual carnal. É sexo entre almas.
George Orwell e outros visionários previam que, no futuro, a humanidade atingiria poderes telecinéticos. Pois chegamos a este ponto: eu posso daqui a pouco falar com minha amiga que está na França ou fazer sexo com outra que mora no Mato Grosso do Sul. Tudo sem sair do lugar. Sabe quando eu vou abdicar de uma maravilha dessas?
Quanto ao fato de fazer cyber sex com uma parceira que você conhece, ué, também é assim que costumo fazer. Mas não tenho nada contra quem faz com completos desconhecidos. Qual o prejuízo? Será que nosso lado sensível é um bloqueio para o lado devasso? Já entrei em chats por curiosidade e achei excitantes, sim. Não faço isso há muito tempo porque as pessoas que o freqüentam são muito pouco criativas e vão direto demais ao assunto. Eu gosto de conversar, conhecer e tal, daí a interlocutora chispa. Mas tive parceiras criativíssimas neste meio, algumas que já eram amantes, outras que vieram a ser e outras que (ainda) não são. Uma constatação bem interessante: se é criativa no cyber sex, é criativa na cama. Acredito que o mesmo valha para o homem (aliás, acho que até mais do que para a mulher). O motivo é óbvio: a performance é condicionada pelo exercício. Nenhum ginasta consegue chegar lá sem praticar e praticar e praticar. Vale o mesmo para os criativos. Ninguém consegue ser inventivo usando a criatividade só na hora H.
Quanto a eu ser paranóico, você realmente acha que me enquadro no perfil? E o que tem a ver alhos com bugalhos? Exercitamos nossos neurônios para satisfazer nossa inteligência, curiosidade, sabedoria, erudição, esperteza, etc, por que então não usá-los para nos satisfazer sexualmente? Aliás, como é que você concebe satisfação sexual sem ser pelos neurônios? Você conhece alguém que goza pelo sovaco? E chamar de unambomber é de um despautério que daí não vou nem comentar. Eu saio todos os dias e todas as noites a diversos lugares, tenho contato com dezenas de pessoas diariamente e não fico recluso na minha caverna. Realmente, não peguei a sua sinapse.
Não faço sexo com estranhos e há um bom tempo que não pratico cyber sex, mas não quero recriminar nem uma coisa nem outra. Sexo com estranhos é meio bizarro demais. Mas cyber sex não é “colocar apenas um sentido em prática”, você está equivocado: dá para sentir, ouvir, olhar e até cheirar ou sentir o sabor de uma boca, basta usar a imaginação como mecanismo propulsor. Uma pesquisa (registrada no documentário “Quem Somos Nós?”) indicou que, após visualizar um objeto, o fato de uma pessoa imaginá-lo leva informações ao cérebro que ele não consegue distinguir se é real ou imaginário. Se existiu no seu cérebro, é real. Só não é tangível, mas aconteceu no lugar mais importante do universo. Tem uma cena de pontes para Terabítia em que a adolescente que vira amiga do protagonista lê em voz alta a redação sobre o período em que mergulhava na costa da Austrália, sendo que o garoto lhe pergunta quando foi isso, ao que ela responde: “eu nunca mergulhei na vida”. É como as HQs do Carlos Zéfiro, que descreviam minuciosamente as relações sexuais sendo que nem ele era um amante tão freqüente ou um ginecologista ou, tampouco, um sexólogo. É o mergulho da mente. E veja, não sou um sedentário, pratico vários esportes e não posso ser acusado de um entusiasta da ociosidade em prol do sexo mental. Trata-se de estimular o prazer tanto corporal quanto mental, sendo que este último é o principal, conforme disse um entrevistado tetraplégico no Programa do Jô. Aliás, é possível fazer sexo com o corpo, mas só é possível atingir o prazer com o cérebro.
As pessoas da história da Verônica não tinham como resolver a situação pessoalmente, ela pode explicar melhor mas acho que não vai querer detalhar mais. Enfim, mais um prodígio da web em prol das relações afetivas. Portanto, não é “evidente que sim”, conforme você imaginou.
Quanto a ser mais verdadeiro no msn do que num contato real, a diferença é que no messenger você pode falar sem ser interrompido, e isso faz toda a diferença, principalmente para pessoas como eu, que não gostam de berrar ou de disputar espaço na fala com seu interlocutor. Outro ponto: na falta de tempo do cotidiano nosso de cada dia, acabamos falando muitas vezes mais pela web do que pessoalmente, daí parece que somos mais legítimos através dela. E talvez até sejamos mesmo, porque, repetindo, só temos aqui o pensamento como canal informativo, e pode muito bem saltar para fora informações que iríamos confinar em uma conversa pessoal, em especial por parte de quem é tímido. Nesse sentido, tenho amigos para os quais a web é terapêutica. O fato é que um bom interlocutor, alguém realmente inteligente, tem seus dotes colocados à prova na web: quando você veste uma roupa charmosa na night, já está dissimulando; quando você está na web, não tem este recurso. Não tem perfume, não tem olhar 43, não tem halls sabor cereja: é só você com seu talento intelectual. Você pode até tentar se passar por quem não é, mas a verdade vem à tona mais rápido do que conexão banda larga. Web e cyber sex são universos à parte, com vida própria. Apreciá-los é facultativo, tanto quanto gostar de mar ou de assistir filmes. Conheço quem não curta. Dá para desligar o computador, viajar para a serra e desviar do cinema. Não dá pra censurar quem não aproveita isso, apenas lamentar. Mas respeito, Rodolfo. Aliás, recomendo que você levante um movimento para acabar com esse blog e promova reuniões presenciais. Que deixe de mandar e-mail e me envie cartas. E que pare de falar comigo pela web, né, afinal isso aqui é, como você disse, um mundo triste, e você é humano, demasiadamente humano. 

Charlie

Rodolfo disse...

Marião,
Você é meu mestre para muitas coisas (vc sabe disso) mas acho que não pescou aonde eu queria chegar efetivamente.

Em primeiro lugar, em nenhum momento disse que você não era humano, nem paranóico e muito menos o unambouber em persona. Fiz uma comparaçao com as pessoas do mundo real (eu) e aquelas que tem transferido grande parte das suas vidas para o mundo virtual (o que não acho ser exatamente o seu caso).
Provavelmente os mais jovens que nós e mais
"mudernos" vão dizer: "puxa como esse cara é conservador... Não entende nada de nada.Os tempos mudaram e ele ainda não se deu conta...."
Talvez eles/elas, até você (meu querido amigo) estejam certos....

Se os novos tempos exigem de mim um comportamento mais compreensivo com essas novas tecnologias do amor e do prazer, quero dizer que eu passo.
Meu mundo é outro.

Isso não quer dizer,ao mesmo tempo, que me sinta menos estimulado em ser um crítico propositivo de alguns dos textos desse blog que faz parte desse tecnológico mundo da tecnologia.

Apesar de eu ter sido um pouco refratário no início da Internet (lembre-se que eu peguei - e vc também - aquela fase que não existia Bill Gates e os computadores eram inteligíveis),ela e seus acessórios (orkut, MSN, sites de informação) trouxeram coisas maravilhosas para mim. São tantos os exemplos que ficaria até chato citar, mas entre aqueles que considero mais importante pessoalmente é justamente o fato dela ajudar a aproximar as pessoas que gosto. Você conhece algumas das minhas estórias e sabe que ela já foi capaz de me encantar por uma pessoa de uma maneira bastante poderosa.

Isso não quer dizer que eu ache que ela sirva para tudo, para todos os propósitos.
Não me parece normal sermos capazes de dizer e fazer coisas na net, que não sejamos capazes de dizer e muito menos fazer ao vivo (já que o tema é esse).
Se existem casais e pessoas que se satisfazem melhor na net que na vida real, não seria mais prático se separarem e tentarem a felicidade com outro parceiro na vida real?
Ou vamos ficar eternamente buscando nossas soluções nessa espécie de videogame da felicidade cibernética?

Posso traduzir que você crê que as pessoas sejam mais verdadeiras na NET. Quem é que nos garante que quem está do outro lado é uma pessoa do sexo oposto? (suponho que seja a sua preferência também - sem ofensas, ok?). Não poderia ser uma pessoa indecisa na vida real que resolve sair do armário apenas virtualmente?

Não tenho nada contra, mas mesmo para essas decisões acredito que o foro correto seria a vida real e não a virtual.

Em resumo, sou um admirador de um monte de coisas que a Internet nos produziu, mas também sou um crítico ferrenho pois tudo que é usado sem critério perde o sentido em minha opinião.

Você sabe que admiro muito os seus textos (os contos eróticos não tive a oportunidade de conhecer, mas fiquei curioso...) e não gostaria de ser expulso desse espaço tão democrático. Mas se for o desejo de todos, eu me vou de cabeça erguida, cravo no paletó e assoviando uma música bem romântica do Astor Piazzolla.
Daquelas que nunca poderão ser escutadas numa sessão de sexo virtual.

Gostaria de finalizar citando o título de uma linda música do grupo Fato do nosso amigo Ulisses Galeto.

Marião, eu quero 5 sentidos....

Abs

Rodolfo disse...

Marião,
perdoe as inúmeras redundâncias... escrevo mais rápido do que penso. Olha o perigo.......

Rodolfo

Anônimo disse...

Ótimo texto...
... mas esse debate aí tá melhor ainda... rs

Anônimo disse...

Salve, Rodolfo.
Mesmo não sendo eu o ponto de comparação na sua análise entre amantes carnais e cyber lovers, preciso defender este segundo grupo. Embora difícil de ser traçado seu perfil (não há pesquisas a respeito), com certeza não é formado por gente insensível, paranóica ou unambomber. Seria pretensão de minha parte afirmar categoricamente que pessoas com este perfil não praticam cyber sex, mas o fato é que gente sem sensibilidade não consegue se imaginar fazendo sexo; pessoas paranóicas têm medo de quem está na outra ponta da conexão e unambombers não são lá bem o estilo de quem gosta de fazer amor, seja ele na cama ou no PC. Sendo assim, descarto todas as possibilidades não por uma questão de pesquisa, mas de raciocínio lógico.
Seu mundo e o meu (e o dos leitores deste blog) são exatamente o mesmo. A diferença é que você quer imaginar que isso aqui, a web, é uma espécie de submundo. Mas não está percebendo que nós dois nos conversamos muito mais por aqui do que pessoalmente, e não há problema nenhum nisso, pelo contrário. Essa idéia de separar em catálogo “relações reais” pra cá, “relações virtuais” pra lá, é uma conduta forçada. E equivocada. É o mesmo que achar que um cidadão que lê muito vive num outro mundo, fora daqui. Pode até ser um mundo adicional, mas está dentro dele, como ocorre com cada um de nós. É um universo complementar, que não invalida em nada o mundo à nossa volta. Só é ruim quando é escapismo. Mas daí vale para tudo: virou exagero, vício, é ruim e ponto. Não há o que se discutir. Mas isso não se restringe, nem de longe, ao cyber sex.
Fazer na web coisas que não fazemos ao vivo é uma variante desta modalidade de contato interpessoal. Você pode ser e fazer exatamente o que é e o que pensa. Ou não. E não há mal nenhum nisso. As pessoas que gostam de fantasiar, ótimo, exercitem o potencial criativo. Até pouco tempo isso era restrito a escritores e atores, hoje está absolutamente democrático e lúdico. Provavelmente a próxima geração será muito mais curiosa, esperta e inventiva por conta disso. Há pouco mais de dez anos, uma pessoa só falaria abertamente de sexo ou escreveria sobre o assunto se fosse colunista da Playboy, isso mudou drasticamente, e estamos aqui eu e você discorrendo em cima do tema sem pudores, bem como tem gente nesse exato momento trocando experiências e informações sobre sexo em chats, msn, blogs, Orkut, o escambal. Serão muito mais bem informados do que os homens de uns quinze anos atrás, que eram apontados em pesquisas como desconhecedores da localização do clitóris, verdadeiros analfabetos sexuais. Talvez a era dos incompetentes na cama esteja fadada a encontrar um fim porque agora as pessoas fazem algo impensado até pouco tempo: conversam sobre o assunto. Isso sim deveria ser o normal. Restringir-se em participar da festa porque até hoje isso não entrou na nossa cartilha de relacionamentos é uma auto-sabotagem. O interessante é fazer ao vivo igual ao que se faz na web (eu gosto de falar sacanagem na cama também, oras, além de praticar o que fantasio). Mas, voltando ao que comentei anteriormente, é um estímulo aos mais tímidos e não vejo que seja problema fazê-los viajar em suas fantasias. É o mesmo que recriminar alguém por se imaginar viajando para a Europa ou à Lua, só porque isso não ocorre no mundo real. É normal, sim, fantasiar na web e na vida, na fila do banco, no ponto de ônibus, no chuveiro. Assim como é, sim, muito saudável. A web é apenas mais um veículo, tanto quanto o torpedinho passado em mesa de bar. “Qualquer maneira de amor vale a pena”, para você que gosta de MPB.
Não é elogiável um casal que sana suas frustrações sexuais traindo pela web, só citei esse fenômeno para mostrar que, ao contrário do que você pensa, o cyber sex é muitas vezes tão ou mais estimulante que o sexo real. E volto a afirmar que uma coisa não dispensa nem invalida a outra.
Sobre transar com alguém do mesmo sexo por engano, isso só rola para quem faz cyber sex com desconhecidos, e isso não se enquadra comigo. Mas esse tipo de armadilha só vai pegar aqueles que entram em chats para dar rapidinhas. Se você é minimamente investigativo, não rola. Mais ainda, se você quer realmente conhecer o ser humano com quem está conversando, esse embuste jamais acontecerá, porque o interlocutor não conseguirá disfarçar por longo tempo.
Não vou mais continuar com o papo de vida real e vida virtual porque parece pensamento de arquivista, de bibliotecário, de quem fica catalogando, separando em fichas. Para mim as duas coisas são uma só, porque só converso com gente de carne e osso. Se o veículo é um teclado, uma caneta ou o ar que transporta minhas palavras, isso é absolutamente irrelevante.
Estou coincidentemente assistindo à comédia romântica “Sintonia De Amor”: “se está no computador, acreditam em tudo”, diz uma garotinha ao teclado; enquanto isso Meg Ryan e Tom Hanks vivem as desventuras de uma vida em que tentam se achar e viver felizes para sempre. O mesmo casal que fez “Mensagem pr@ você”. Aliás, da mesma roteirista. Aliás, da mesma temática. Pessoas que se conhecem à distância e tentam criar um relacionamento. Importante observar que, no fim das contas, eles se encontram no mundo físico mas que suas almas de fato se encontraram no ambiente virtual. Tanto que há um choque entre o cara sensível que Meg Ryan conheceu na web e o capitalista dono de livraria que se revelou no mundo real. Não que ele tenha fingido ou omitido, é que (ela sabe) o cara realmente é humano e bondoso, mas se deixou contaminar e criou uma couraça de pragmatismo por conta do mundo selvagem ao redor. A melhor faceta do personagem só foi possível nas conversas virtuais, porque lá ele se desnudava de verdade. Muito provavelmente os dois (e muita gente do mundo real) jamais teria se afeiçoado se houvessem se conhecido numa balada ou mesmo dentro de um livraria.
Sexo começa muito antes da cama, e o strip mais talentoso que pode haver é aquele no qual tiramos nossas vestes sociais. E isso ocorre mais normalmente na web porque aqui já não há roupa: é apenas pensamento, conforme eu havia dito anteriormente.
Um aparte: Você não foi convidado a se retirar desta comunidade e sabe disso, não se faça de dodói.
Ser crítico ferrenho da web não vai te ajudar em nada, Rodolfo. E o fato de você estar dedicando seu tempo NA WEB para criticá-la demonstra o quanto o ambiente é saudável, democrático e estimulante. Daí para o cyber sex é um pulinho. Aliás, não vejo o motivo pelo qual Piazzola não possa ser ouvido numa sessão de sexo virtual. Já ouvi muito jazz do bom enquanto praticava. Aliás, dá até para ver casais dançando Piazzola pelo Youtube enquanto você pratica. Só não recomendo porque vai distrair demais.
Também não vou repetir a questão dos cinco sentidos porque já falei sobre isso, você entendeu e eu só gosto de conversas que evoluem.
Ontem assisti na Globo News a uma entrevista com um cara genial que criou um aparelho para portadores de paralisia corporal total comporem (e executarem!) músicas. É fabuloso porque você vê aquele sujeito numa cadeira de rodas movendo apenas os olhos e um pouco da cabeça, tocando um instrumento virtual que leva sons a uma platéia que aplaude com grande entusiasmo. É porque música não se toca só com os dedos. Da mesma forma que sexo não se faz só com o pinto.
Muitas das melhores cenas de sexo no cinema não exibem cópula. Há questão de algumas décadas, filmes que tinham sexo eram muitas vezes tachados de apelativos (não que boa parte deles não fosse), da mesma forma que sua platéia era vista com resguardo, como se quem os assistisse fossem voyeurs frustrados. Gente paranóica ou unambomber, sabe. O tempo passou, só mudou o veículo. A única diferença é que, ao contrário dos filmes, aqui você tem a chance de ser o personagem.

Charlie

Anônimo disse...

Visitante, se quiser participar do debate, sinta-se à vontade, OK? ;-)

Charlie

Rodolfo disse...

Marião,

"Let me try again, como cantaria o sinatra. Eu por acaso disse que sou um anti-internet? Se fiz parecer isso, não me fiz entender claramente.

O que coloquei é que o fato de termos vivido o "nascimento" dela (um aparte - uma vez quando trabalhava na Zest pessoas que trabalhavam e se falavam o dia inteiro juntas comentaram numa certa ocasião -"vou te mandar um e-mail para a gente conversar hoje à noite um pouco". Louco, né?)
Sobre nós (eu e vc) falarmos mais pela internet, não acho que seja exatamente uma opção. Posso lhe garantir que preferiria ter essa conversa num boteco ou num café, mas não é nada tortuoso para mim tê-la aqui mesmo. Pelo menos mantemos contato e isso tem a ver com o que escrevi sobre os benefícios da NET, aproximar as pessoas que gostamos.

Voltemos a casinha como diria o Machado de Assis agora. Você trouxe um tema novo que me deixou encucado. Entendi errado ou vc chamou a nós e a todos os nossos antepassados de incompetentes sexuais por não saberem aonde fica o clitóris e por supostamente sermos ruins de cama por termos vivido em outra época? Taí uma outra coisa que não concordo. O fato de termos hoje mais acesso a informação (e isso é inexorável- até em excesso eu diria) não nos faz mais evoluídos necessariamente, nem mais inteligentes, nem melhores de cama, mais encantadores, na minha opinião. Sabe porque? Porque estamos lidando com questões essenciais do ser humano: as relações e não um novo invento científico.

Fazendo um paralelo com a música (tema que vc domina e eu adoro), não acho por exemplo que essa geração que veio, a despeito de ser criativa, poderá ser reconhecida como a turminha de woodstock, os beatles, rollings stones, led zeppelin, pink floyd entre outros.... o sucesso está cada vez mais fugaz, os gostos descartáveis, sempre esperando a melhor banda de todos os tempos da última semana......

Não sou um pessimista achando que estamos na era do descartável.... seria triste isso. Mas acho que temos desafios importantes pela frente com as pessoas que virão a esse mundo, os adolescentes atuais e a turminha que ainda não chegou. Acho que estamos na era dos extremos, no sentido de chegarmos cada vez mais rápido na transa real e termos interesse cada vez maior na transa virtual....
desculpe a referência permanente ao real e virtual, para mim muitas dessas coisas estão intrínsecas mas é modo de me expressar....

Sobre os 5 sentidos você pode até querer não discutir, mas é impossível acreditar que uma transa virtual traga os gostos, os cheiros e prazeres que uma boa transa real dá. Desculpe amigo, respeito os Marqueses de Sade cibernéticos mas prefiro a vida real. Bem em frente aos meus olhos.....

Abs

Anônimo disse...

cybersex, não precisa ser uma pessoa aqui e outra lá do outro lado , os 2 se masturbando com uma mão e a outra no mouse. Isso é até meio difícil. Muito melhor ver vídeos e fotos de sacanagem em banda larga, do que ter que ficar escrevendo coisas sem saber quem está do outro lado. 90 % são nerds e/ou malcomidos(as). E um sexo assim exige um tempo livre, pois demora. E imaginação, bem fértil.

E uma coisa não anula a outra. Tem fase que você precisa se virar com o que tem, por ninguém querer te comer ou te dar, depende do gosto em questão. Daí a mão peluda entra em ação.

Anônimo disse...

Salve, Rodolfo.
Não vou me delongar muito porque já é madrugada e tenho de trampar nuns roteiros cabeludos, mas você sabe muito bem que não chamei todos os nossos antepassados de incompetentes sexuais, portanto você não precisa discordar de nada. E quanto a fazer sexo "bem diante dos seus olhos", ué, com computador você faria como? Desligaria o monitor?
Não sei se você é um cyber virgin (e não seria motivo de vergonha ou de orgulho ser um), mas recomendo que experimente ao menos uma vez na vida. Você está me inspirando a fazer uma campanha pelo fim dos cyber cabaços.

Charlie

Anônimo disse...

Anônimo, muito lúcida e despudorada sua franqueza. Não estou plenamente de acordo, mas a coerência é inegável, por mais chula que tenha sido a explanação.

Charlie