sábado, 21 de agosto de 2010

Aquela Menina



Quem nunca teve um amigo interesseiro, que atire a primeira pedra. Fui rodeada por amigos interesseiros durante toda a minha infância, até que lá pelos meus 15, 16 anos, eu aprendi a selecionar minhas amizades, e passei a ter não mais amigos, e sim colegas interesseiros. Claro que não melhorou muito, mas quem sabe, daqui um tempo, eu já possa dizer que zerei minha lista de amigos e colegas desse tipo.
Mas também não posso deixar de contar o outro lado da história. Tenho que admitir que eu, não sei porque motivos, também fui uma menininha um pouco interesseira. Não que eu escolhesse minhas amigas de acordo com os brinquedos caros que elas tinham, ou a casa legal que elas moravam. Meus critérios de escolha sempre foram a lealdade, companheirismo e o entendimento. O que eu costumava fazer era, de vez em quando, escrever trabalhos escolares pra elas e cobrar uns troquinhos, até que juntasse dinheiro suficiente para comprar um tênis ou uma bolsa. Ou também, passava o fim de semana na casa delas só para ficar navegando pela Internet, já que meu pai não me deixava usar o computador, ou as convidava para ir ao shopping comigo para que eu pudesse encontrar meu namoradinho secreto. O fato é que, tanto eu quanto elas, sabemos que eu nunca fiz isso por mal e isso tanto é verdade, que continuamos amigas até hoje e damos risada dessas coisas.
O complicado é quando você sente o interesse, e não sente a amizade. Lembro-me de algo que me marcou tanto, que mesmo passados mais de 10 anos, eu não esqueci.
Eu deveria ter mais ou menos 5 anos quando aquilo aconteceu. Era um domingo, e minha família foi ao mercado fazer as compras do mês, e me levaram junto a contragosto. Quando chegamos lá, decidiram me deixar brincando no Playground e foram as compras. Logo nos primeiros cinco minutos, uma menina que aparentava ter a mesma idade que a minha, se aproximou de mim e perguntou:
-Oi, você quer ser minha amiga?
Contente por não ter que passar a tarde inteira sozinha, respondi que sim, e fomos juntas brincar. Enquanto subíamos a pequena escada para entrar no labirinto, ela perguntou meu nome, e assim que eu respondi, ela falou:
- Nossa, o meu nome também é Leticia.
Eu achei aquilo o máximo. Sempre desejei uma amiga xará, e eu a tinha achado naquele instante. Rimos juntas e voltamos a brincar.
Em um outro momento, ela me perguntou minha idade, e para nossa surpresa, também tínhamos nascido no mesmo ano.
Ela era realmente divertida e nós não parávamos de rir por um minuto sequer.
Quando deitamos na piscina de bolinhas para descansar, ela me perguntou quando era o meu aniversário. Eu respondi, e ela, espantada, disse:
- Nossa, o meu também é nesse dia e nesse mês.
Nos abraçamos emocionadas. Eu olhava para ela e desejava que aquele dia durasse para sempre, ou que pelo menos, nossa amizade durasse. Já imaginava a Leticia indo dormir em minha casa, viajando comigo para a praia, e nossas festas de aniversário com convidados em dobro.
Porém, cada vez que eu olhava pela janela, via que estava escurecendo e que dali a pouco, uma das duas iria embora. Tratei de tomar uma atitude, e assim que fui perguntar qual era o telefone de sua casa, a tia do parquinho veio vindo em nossa direção. Eu estava com medo, não queria ir embora e muito menos queria que a Leticia fosse. Então, a tia gritou:
- Vanessa, seus pais chegaram.
Eu mal tive tempo de respirar aliviada. Leticia saiu correndo, calçou seus sapatos, e de longe, me deu tchau e se foi.
Fiquei alguns segundos sem entender o que estava acontecendo, até que percebi. Leticia era a Vanessa, a menina que, assim como eu, queria uma amiga para passar a tarde brincando no parquinho.
Nunca me esqueci da Leticia e de nossa amizade eterna, mas da Vanessa, eu procuro nem lembrar.





Letícia Mueller

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