sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Deixa pra lá



O tempo passa e os números no relógio ao canto da tela aumentam junto com minha respiração.
Que vazio, que branco. Não consigo pensar em nada além de matérias jornalísticas, resenhas sobre história da arte e dinâmicas em sala.
Minha mente é uma agenda da faculdade, vivendo cega em tempestades e dilúvios arrebatadores. Não sobra espaço para outros pensamentos.
Livros! Tenho ainda dois livros para entregar na biblioteca. Com atraso. Multa de R$ 12,00. Ah se não existisse esse último feriado…
Que vazio de idéias! Não consigo pensar em nada e isso é a mais pura verdade.
De repente, penso em dormir e extrair algo de um sonho, mas logo me lembro que há meses meu sono é como água parada. Dormir seria apenas perda de tempo.
Alguma referência? Nem Fernando Sabino ou Veríssimo poderiam me ajudar. É tudo minha culpa. Não há nada que viva em minha mente e deva ser escrito. Pelo menos, não por enquanto.
Até porque a sensação que tenho é que minha criatividade vive oca. Funciona até certo ponto, mas no baque da primeira pressão, rompe-se como porcelana.
Nada. Meus dedos não conseguem se mexer. Meus olhos rodeiam o escritório buscando uma inspiração, como se objeto algum no mundo fosse uma história com letra maiúscula e ponto final por si só. Isso não existe.
Eu não existo. A única coisa que eu faço (fazia) direito esvaiu-se de mim como um perfume que, no primeiro instante do banho, ao sentir as gotas tocarem a pele, aproveita para fugir daquele que não o merecia.
Perfume não foge, criatividade sim.
Mas e agora, aonde achá-la?
Talvez seja um castigo por eu estar escrevendo durante o expediente. Um castigo inconsciente, um auto flagelo, uma maneira que minha consciência arranjou de me fazer parar de divagar enquanto estou no trabalho.
Não importa. Preciso escrever.
Ainda não tomei a injeção. Pior que não terei tempo antes das aulas começarem. E nem quando acabarem.
Terei de ir a farmácia durante o intervalo. Vou perder o intervalo. Que maravilha. Eu ia passar na biblioteca pegar algum livro que me avivasse a criatividade, mas não vai dar tempo. Tudo bem.
Não ia adiantar mesmo.
Uma hora. Esse é o limite para minha bomba relógio explodir.
Tenho sorte de estar sozinha por aqui. Todos foram para reunião, só eu fiquei. Talvez se houvesse um pouco de barulho, eu pensasse em algo…
Minha cabeça dói. Não gosto de perder tempo, preciso cumprir minhas metas, meus prazos, meus planos, meu sonhos…
Às vezes penso que tenho coisas demais. Preocupações demais. Compromissos, vontades, sonhos, desejos, pra que se necessita deles, se quando preciso de uma boa história, eles só me esfumaçam a visão?
Adoraria um aspirador de problemas para a mente. Sim, para a mente. Afinal, o problema só é chamado assim porque eu quero, e porque eu o considero como tal. De nada adiantaria eliminar os obstáculos na vida real. O verdadeiro efeito se daria se eu os tirasse de meus pensamentos. Afinal, o que é uma conta atrasada no mundo concreto, e o que o é na minha mente?
É uma conta. Números, papel, códigos. Fatos a serem resolvidos amanhã, quem sabe. Não importa.
Quase consigo ouvir os mecanismos da bomba dentro de mim. Menos de uma hora. Tenho que finalizar isso.
Tenho uma mania horrível de não acabar o que começo. Aliás, nunca tenho bem certeza se realmente comecei. Isso é complicado.
Eu deveria começar um texto, isso sim que eu deveria fazer.
Mas para isso, eu preciso começar a ter uma idéia. E aí?
Vou procurar em outros sítios, e o texto fica pra semana que vem.




Letícia Mueller

Um comentário:

Anônimo disse...

Um parágrafo é o que basta... como a gente divaga nessas fases... tema livre me lembra "o que eu posso mais dizer senão um não sei?"

beijos Angelica