domingo, 27 de abril de 2008

Câmera 7


Apartamento 403 – 02:17:03 AM
Câmera 1: sala – vista frontal
A porta se abre e os spots no teto se acendem. Fabi entra seguida por um rapaz de jaqueta azul cobalto. Ela o puxa pelo colarinho e o beija com gula. Ficam em pé sugando-se por meio minuto, enquanto as unhas vermelhas de Fabi passeiam pelas costas do rapaz e começam a puxar sua jaqueta para baixo.
Câmera 3: sala – vista lateral direita
Mão de Fabi afaga a bunda do rapaz.
Câmera 2: sala – vista lateral esquerda
Mãos do rapaz passeiam pela parte posterior das coxas de Fabi.
Câmera 1: sala – vista frontal
A jaqueta azul cobalto é arremessada no chão. Fabi puxa pela nuca do rapaz e o faz beijar seu colo. Ele lambe seu pescoço. Então a empurra contra a parede.
Câmera 2: sala – vista lateral esquerda
As pontas dos dedos do rapaz acariciam a parte interna das coxas de Fabi, subindo e descendo.
Câmera 3: sala – vista lateral direita
Mão de Fabi entra na calça do rapaz, apalpando sua bunda por dentro da cueca.
Câmera 1: sala – vista frontal
Com os joelhos, o rapaz se embrenha entre as pernas de Fabi. Suas mãos levantam aos poucos sua a saia da moça. Os dois se olham firmemente. Ela começa a levantar a camisa do rapaz, passando a desabotoar de baixo para cima. Som de respiração ofegante.
Câmera 2: sala – vista lateral esquerda
Os dedos do rapaz descem aos poucos a meia de Fabi deixando surgir a pele branca em contraste com o preto brilhante da saia de latex.
Câmera 3: sala – vista lateral direita
O quadril do rapaz vem e vai, para a frente e para trás, pressionando o sexo de Fabi. Gemidos.
Câmera 1: sala – vista frontal
Metade da camisa dele está desabotoada e Fabi leva o rosto até seu abdômen, mordiscando pouco abaixo do plexo.
Câmera 3: sala – vista lateral direita
Mãos de Fabi passam a afrouxar o cinto. Suspiros.
Câmera 1: sala – vista frontal
Fabi puxa a fivela do cinto, tirando-o de uma única vez. Passa o cinto pelo pescoço do rapaz e puxa sua cabeça. Beijam-se enquanto as mãos dele percorrem as costas e barriga de Fabi por cima do tailleur de riscas de giz.
- Quer me foder? Então me segue.
Câmera 5: cozinha – vista da entrada
Fabi vem puxando o rapaz com o cinto por trás do pescoço para dentro da cozinha. Joga a peça de couro no chão, com a fivela fazendo barulho no piso cerâmico.
Câmera 4: cozinha – vista lateral direita
Fabi senta-se na pia. Abre as pernas, reconfortando o amante entre suas coxas. Abraça-o arranhando suas costas por cima da camisa enquanto ele mergulha o rosto entre seus seios.
Câmera 6: cozinha – vista lateral esquerda
A garrafa de menta sobre a geladeira é pega por Fabi. Ela a abre e despeja um fio do verde líquido sobre seus lábios. O casal mistura a bebida com suas salivas em um beijo sedento. Fabi o afasta com a mão, desabotoa o tailleur e deixa a bebida correr por seu colo, passando por dentro de sua blusa branca de alcinha.
Câmera 4 : cozinha – vista lateral direita
O rapaz aperta a blusa sobre o peito de Fabi, esparramando a bebida por todo o ventre e seios, fazendo surgir os mamilos saltados por baixo do tecido agora transparente.
Câmera 5: cozinha – vista da entrada
A boca do rapaz lambe a blusa encharcada de Fabi, correndo seus lábios levemente pelo bico dos seios. Fabi afaga seus cabelos e fica arfante, gemendo alto.
Câmera 4: cozinha – vista lateral direita
As pernas de Fabi abraçam o corpo do rapaz. As mãos do amante a puxam com rudeza pelo quadril. Novamente rebolam juntos atritando seus sexos.
Câmera 6: cozinha – vista lateral esquerda
Fabi subitamente repele o rapaz com um empurrão. Ele parece não entender a reação.
- Agora eu é que quero sentir o seu gosto. Qual o sabor do teu pau?
Câmera 7: área de serviço – vista da entrada
Fabi pula da pia e se encaminha insinuante até a área de serviço. Ao fundo, o rapaz parece perturbado.
Câmera 9: área de serviço – vista lateral direita
Fabi procura algo em um cesto até encontrar um lenço de seda cinza. O rapaz se aproxima. Ela o puxa pela calça e o empurra contra a parede.
Câmera 7: área de serviço – vista da entrada
Fabi coloca o lenço sobre os olhos do amante. Amarra por trás da cabeça. Leva-o para o lado, fazendo-o tatear sobre um objeto que não sabe o que é.
- Senta, puto.
Atendendo a ordem, o rapaz senta na centrífuga.
Câmera 8: área de serviço – vista lateral esquerda
Fabi tira por completo a camisa do rapaz. Mordisca seu mamilo e o acaricia com a ponta dos dedos até empiná-lo. Vira-se de costas para o rapaz. Levanta a saia e esfrega a bunda em seu peito. Rebola e pressiona. Gemendo, o amante tenta tocá-la, mas Fabi se afasta e abaixa a saia novamente.
- Sentiu como molhei seu peito?
Câmera 9: área de serviço – vista lateral direita
Fabi fica de joelhos e abre as pernas do rapaz. Aproxima a cabeça de seu sexo. Ele tenta mais uma vez tocá-la e Fabi novamente se afasta. Conformado, o rapaz acena positivamente com a cabeça, em sinal de que entendeu a brincadeira. Fabi chega com sua boca bem próxima a seu membro, que lateja por baixo do jeans. Ela puxa fundo o ar, sentindo seu cheiro. Depois, solta o botão da calça e desce o zíper lentamente, dente por dente. O rapaz joga a cabeça para trás como que não agüentando mais de tanta expectativa. Surge então o branco da cueca, com o pau pulsando ereto por trás do tecido. Fabi ablaca-o com a boca, fazendo os dentes percorrerem de uma extremidade a outra, da glande aos testículos.
Câmera 8: área de serviço – vista lateral esquerda
Fabi se levanta.
- Consegue seguir meu cheiro?
Câmera 7: área de serviço – vista da entrada
Afagando os cabelos do rapaz, Fabi se aproxima levantando a saia e colocando a mão por dentro da calcinha. Masturba-se por alguns segundos à sua frente. Tira a mão e leva o indicador bem próximo ao nariz do amante. Ele cheira. Ela lambuza seus lábios. Ele lambe.
- Vem.
Câmera 4: cozinha – vista lateral direita
Fabi vai saindo da cozinha, conduzindo o rapaz pelo cheiro em seu dedo. Ele se levanta inseguro, puxa a calça para cima e se atrapalha de início, levando as mãos para a frente e caminhando pé ante pé, a fim de não tropeçar ou colidir em nada.
Câmera 1: sala – vista frontal
Fabi sai da cozinha ainda trazendo o rapaz com o dedo pouco abaixo de seu nariz. Ele chuta o fogão mas prossegue, passando pela porta da cozinha e chegando na sala.
Câmera 11: corredor – vista de cima
Fabi estica o braço e acende a luz do banheiro. Agora, maltrata o rapaz, baixando a mão e deixando-o sem sua bússola do sexo.
- E agora, consegue sentir meu cio?
Câmera 12: banheiro – vista da entrada
Fabi entra no banheiro. O rapaz continua a segui-la, achando o rumo certamente pelo som de sua voz e de seus passos. Fabi vai para perto do box.
Câmera 13: banheiro – vista lateral direita
Ela tira um tubo branco da gaveta da pia. O rapaz continua entrando no banheiro, apoiando-se no batente da porta. Fabi espreme o gel transparente do tubo em seu dedo. Dá para o rapaz chupar.
Câmera 12: banheiro – vista da entrada
Ele primeiro cheira o gel com estranheza.
- Sente. Chupa.
Câmera 14: banheiro – vista lateral esquerda
O rapaz se delicia com o dedo de Fabi.
- É abrasivo, gostoso, pra você chupar em mim.
Câmera 12: banheiro – vista da entrada
Fabi tira o dedo da boca do rapaz. Senta-se no vaso, volta a abaixar sua calça até as coxas e fica por um instante apreciando seu pau duro por baixo da cueca. Ele parece apreensivo com a ausência de novos estímulos. Fabi pressiona suas coxas, passeando com as mãos ao entorno. Depois, aproxima a mão do membro e o aperta delicadamente. Sente um novo pinote, retesando o músculo todo, o que a faz estimulá-lo com um passeio de ponta de dedos, tateando a carne rija. Aproxima o rosto e cheira o falo altivo.
Câmera 13: banheiro – vista lateral direita
Fabi se levanta e agora aperta com força o pau do rapaz. Ela então passa o gel na ponta da própria língua e a faz tocar de leve os lábios do amante. Ele abre a boca e Fabi a invade. Leva-o para trás com seu corpo.
Câmera 11: corredor – vista de cima
Sem cessar o beijo, os dois se encaminham para o quarto. Ele pisa na barra da própria calça mas mantém o equilíbrio.
Câmera 16: quarto – vista da entrada
Entram no quarto e caem na cama afoitos, ele no meio das pernas de Fabi, já impaciente, quase um animal. Fabi afasta seus bichos de pelúcia sobre a cama com um braço enquanto tira o lenço dos olhos do rapaz com a outra mão.
Câmera 18: quarto – vista lateral direita
O rapaz a ajuda a tirar os brinquedos de cima da cama. Um urso de pelúcia cai, com a cabeça se desencaixando e revelando a câmera 17.

Lan House Spider Web – 03:15:19 AM
A câmera de vigilância da lan house é observada por Fabi, enquanto André explora o website estrelado por ela. O ambiente está semi-vazio: só os dois e um trio de adolescentes com fones de ouvido participando de algum game de tiros e mortes sangrentas. Incrédulo, o rapaz indaga com um sorriso nervoso.
- Então, quer dizer que agora eu sou um pornô star em Portugal?
- Não seja convencido. A estrela sou eu.
André a olha com um rancor que beira o incontrolável.
- E por que só em Portugal?
- Ah, porque só lá que é divulgado.
- Eu tenho vários amigos em Portugal, sabia?
- Se eles forem punheteiros, podem estar tirando uma com a sua cara.
Fabi ri mas André não faz eco.
- E por que não dá para ver em outros países?
- É porque tem de pagar em Euros.
- Como se no Brasil não desse para pagar em Euros, né.
- Até dá, mas que eu saiba não tem ninguém daqui acessando.
- Sei.
- Só tem europeus. Ah, japonês eu sei que tem também. Mas tudo dekasseguis, porque senão não entendem o que a gente fala.
- Dá para ouvir o que a gente fala?!
- Claro. Além das câmeras, tem microfones pelo ap todo.
- Agora entendi toda a sua gemeção e “palavreado”.
- Reparou como também sou pedagógica? Eu praticamente narro a trepada. E ainda crio um suspensezinho.
- Nós não trepamos.
- Tá, narrei a pré-trepada então.
André fica indignado com o orgulho daquela garota despudorada e aparentemente sem escrúpulos. Não consegue deixar de sentir uma ponta de admiração. Pára de brincar de dar zoom nos móveis e objetos que visualiza no site para dedicar atenção integral a Fabi. Vira a cadeira de rodinhas e fica de frente para a moça que veste sua jaqueta azul cobalto.
- Tá, então agora explica detalhadamente. Quero entender tudo.
Fabi suspira, esfrega os braços para se aquecer e puxa o cabelo para trás da orelha. Parece calcular seus pensamentos.
- Há um tempo, uma amiga tentou me convencer a fazer programas pra ganhar uma grana. Eu nunca fui afim, porque...
- Tá, me poupe das suas justificativas morais. Prossiga com a parte técnica.
Fabi fica ressentida com a grosseria.
- OK, ela me levou num tal de Jamur, e eu perguntei se não tinha um lance do tipo peep-show, saca? Daqueles de tirar a roupa com o cara vendo do outro lado.
- Já ouvi falar.
- Então. Eu não queria trepar, sabe. Só me exibir pra ganhar uma grana.
- Acelera.
- Bom, foi aí que ele me falou dessa treta do ap. Disse que iriam encher de câmeras, e tudo que eu tinha que fazer era morar lá e andar com o mínimo de roupa possível.
- E pagam bem?
- Depende. O que você faz da vida?
- Sou agente de viagens.
- Ah, mais do que você eu ganho.
Fabi cai numa risada debochada que faz o balconista da lan house olhar de atravessado em sua direção. Ela se aquieta não pela censura silenciosa do rapaz que lê seu gibi entre expositores de guloseimas, mas pelo semblante grave de André.
- Desculpe, não quis ofender. É que eu tenho uma amiga da sua área, sei o quanto ganham.
- Não quero saber das suas amigas.
- Tá, OK, continuando... é assim: eu ganho um percentual pelos acessos.
- Quanto mais gente ligada, mais você ganha.
- Sim, e é por tempo também. O cara compra tipo uma, duas, quatro horas, é assinante mensal, etc.
- Interessante, belo business, hein.
- E também paga por cam. O pacote básico é sala, quarto e banheiro, três câmeras por ambiente. Mas tem outros pacotes que dão direito a cozinha, área de serviço, quarto dois e câmeras de detalhes. Agora, se o cara é muito mão-de-vaca, pode até ficar com uma camerazinha só se quiser. Vai de uma a 35 câmeras, a gosto do freguês.
- O que tem no quarto dois?
- Ah, você não viu, né? É cheio de fantasias e fetiches. Perdeu.
- E onde ficam as câmeras de detalhes?
- Ih, essas tem um monte. No teto, nos móveis, atrás do espelho, no ralo do chuveiro...
- No ursinho.
- Também. Só não aceitei botarem lá as câmeras escatológicas: dão mais dinheiro, só que acho muito nojento e é muita invasão da minha intimidade, pô.
- E só ganham dinheiro com assinantes?
- Não, tem patrocinadores, tipo produtoras de filmes pornô que vendem DVDs no portal. Ah, e também merchandising.
- Tipo aquele gel abrasivo.
- Isso.
- E eu nem ganhei royalties.
André balança a cabeça incrédulo com o esquema.
- E você tem de ficar lá o dia todo?
- Não. Eu tenho direito a oito horas fora do ap. Só que tenho de avisar antes pra audiência se programar.
- Que escravidão.
- Ué, oito horas eu passo dormindo e oito horas fora de casa. As outras ficam para... “trabalhar”. Com você é diferente?
André se surpreende, pois não havia pensado nisso.
- E você não pode desligar nenhuma das câmeras nunca?
- Só a 12, quando vou... ah, você sabe.
- A 12 deve ser de frente pro vaso sanitário.
- Sabe tudo.
- Mas as outras não desliga nunca.
- Não. Aliás, olha aqui no site: nesse mapinha sempre indica onde eu tô por causa dos sensores de presença.
- Daí, os visitantes sabem onde te seguir.
- Simples, né?
- E é por isso que você me levou para transar em todos os cantos da casa?
- Claro. Obriga os manés a pagarem pra acessar mais câmeras. Ficam curiosos e não vão querer parar de bater uma bem quando a coisa estava esquentando.
- Genial.
- Pára de ser cínico. E não me recrimine, não fui eu que bolei.
- Mas não era para você só andar com pouca roupa?
Fabi simula um cigarro com a caneta que vê sobre a mesa do PC.
- Veja bem, a concorrência é danada nesse ramo. Enquanto eu só andava peladinha, outras meninas faziam de tudo e eu ia perdendo meu Ibope.
- Daí, começou a trazer uns carinhas para incrementar a audiência.
- Exato.
- E deu resultado?
Fabi dá uma baforada imaginária com a caneta.
- Olha, tem dado uns picos cada vez que rola sexo.
- E quanto mais selvagem melhor?
- Como você viu, eu não poupo esforços.
André volta a passear pelo ap 403 selecionando câmeras e dando zoom pelo ambiente vazio.
- A luz lá nunca se apaga?
- Não é isso. As câmeras têm infra-vermelho.
- Se não tivesse quebrado aquela porra daquele ursinho, você nunca estaria me contando isso tudo, né?
- Justo. Ai, que vontade de fumar.
- Pouco sacana você, hein.
- Você é um ingrato. Eu te salvei.
- Ah, é? Obrigado.
- Sério. Quando eu vi que você percebeu que tinha uma câmera dentro do ursinho, cochichei “vamos sair daqui” pra você não fazer escândalo. Porque senão...
- Senão o que?...
- Olha, o Jamur me disse que as câmeras também me protegeriam de maníacos e de gente que descobrisse o esquema. Por isso, eu deduzo que se você fizesse uma zoeira lá no ap, os caras apareceriam em dois tempos.
- Que beleza, ela tem guarda-costas 24 horas.
- Olha, eu nem deveria estar te contando isso tudo.
- Por que contou então?
- Porque você ficou muito puto e veio de lá até aqui me exigindo isso.
- Só por isso?
- Não. Para te tranqüilizar também. Agora você sabe que foi visto só em Portugal.
- Que besteira. Internet não tem fronteira, não seja ridícula.
- Calma, não me ofenda.
- Então não fala bobagem.
- Tem mais: contei toda a verdade pra você perceber que pode confiar em mim.
- Claro, claro, não existe pessoa mais confiável do mundo do que alguém que te leva para a cama com duas mil pessoas te olhando sem você saber.
- Você conhece alguém que foi tão honesta a ponto de revelar que é uma filha da puta já na primeira noite?
- Filha?
Fabi retrai o corpo ofendida. André percebe mas não se sente na obrigação de fazer nada para se redimir. Então, prossegue com a inquisição.
- Você poderia ter mentido.
- Não faria isso. Eu confio em você.
André a olha surpreso, não esperava a resposta.
- A gente se conheceu há menos de seis horas, guria?
- E daí? Não tem gente que você não confia justamente porque conhece bem?
Mais uma vez, o raciocínio de Fabi deixa André desconcertado. Ele se aborrece em não poder discordar de alguém que parece merecer todo tipo de recriminação.
- Você então sai todas as noites caçando caras para transar?
- Não. Comecei há pouco tempo.
- Não quero saber quantos.
- Você é o terceiro.
- Eu disse que não queria saber.
- Juro.
- Tá, tá. Ei, mas quem é o dono do apartamento?
- Parece que é um roteirista.
- Que ótimo, agora vamos virar personagens de filme.
- Não. Ele nem sabe que fizeram essa zona. O apartamento é alugado.
- Pelo tal de Jamur.
- Justo.
- Gênio.
- E filme pornô nem precisa de roteiro mesmo.
Fabi chama a atenção de André para o site novamente, clicando com o mouse pelas ferramentas que manipulam recursos de visualização do apartamento.
- Mas olha como é bacana: dá pra dar zoom, ouvir as músicas que eu escuto lá... e quem tem o pacote master recebe torpedo informando quando eu estou em casa.
- Um luxo.
- Só. Tenho até fã-clube.
- Olha, já está dando nossa hora. Mas deixa eu te dizer uma coisa: se alguém gravou minhas imagens transando contigo e distribuiu por aí, juro que revelo todo o esquema e te processo.
- OK, você tá certo. Eu faria o mesmo.
- E mais: se eu te pegar à noite seduzindo algum amigo meu para levar pro esquema, te processo também.
- Se não for teu amigo tudo bem?
- Tudo, ué.
- Não parece ser uma reação muito íntegra, né?
- Íntegra... haha, olha quem está falando de integridade.
- Você está pedindo para eu não cantar seus amigos por ciúmes.
- O que?!
- É sim. Duvido que já te excitaram do jeito que eu fiz.
- Realmente, foi uma experiência incrível. Confesso que nunca transei por todos os cômodos de um apartamento numa só noite. A sorte é que não tinha sacada.
- Todos não, faltou o quarto dois.
- Ah, é. Dos fetiches.
- E nós não transamos.
- Sorte a minha, não paguei tanto mico.
- Eu gostei de você.
- Escuta, a gente tem que ir, tá vencendo a hora do nosso acesso.
- A gente fez um belo par. Você pode voltar lá outras noites. Pode vestir uma máscara se quiser.
- O que?! Cada proposta.
- Eu sei que você quer voltar.
- Olha, interessante essa sua faceta romântica. Mas não vai rolar. Sua audiência vai querer que você varie com outros caras. Logo vai receber e-mail pedindo que você faça com dois ou três, que faça uma suruba. E eu não vou me dar muito bem com o quarto dois, porque lá deve rolar sadomasoquismo, tô certo?
Fabi não sabe o que responder, apenas abaixa a cabeça lamentando.
- Deu nossa hora.

Rua XV – 04:17:01 AM
Fabi acende um cigarro enquanto André observa a câmera de vigilância urbana da prefeitura. No silêncio da madrugada, ele consegue ouvir o aparelho mexendo-se no interior da bolha de tom âmbar.
- Hmmm... eu estava quase matando o balconista da lan por causa de um cigarro, sabia?
- Fuma rápido porque tá frio.
- Eu não tenho pressa, não queria sair de perto de você.
- Já disse que essa faceta romântica não combina com você.
- Você me conhece há menos de seis horas.
Nada era mais irritante para André do que usarem suas próprias palavras. Ele olha para os lados apreensivo.
- Aqui é perigoso.
- O mundo é perigoso.
- Vai filosofar?
- Vou, se você quiser.
- Vou entrar no meu carro, você se importa?
- Claro que sim, que cavalheirismo é esse?
- Tá frio.
- Também acho, então me aquece.
- Garota, escuta aqui, logo vai amanhecer e eu...
Fabi pega de súbito a mão de André e aproxima de sua palma a brasa do cigarro. Ele chega a sentir o bafo levemente ardido da chama, percebendo estar a milímetros de sua derme alva e borrifada de pequenos pontos vermelhos pelo frio.
- Escute você. Se me interromper uma única vez, juro que atravesso sua mão com meu cigarro. Eu sou assistida todo dia o dia todo por sei lá quantas mil pessoas, mas sou a pessoa mais solitária que você já conheceu. Eu não escolhi você naquela boate para ganhar mais audiência, mas porque realmente te queria. Porque pela primeira vez na vida descobri que a audiência que eu mais desejava era a de um único homem. Agora, se você só consegue me ver como esses Internautas com uma mão no mouse e outra no pau, é porque tem mais é que se juntar a eles. E eu não tenho faceta romântica, eu sou romântica. Faceta é o que eu mostro para as câmeras. Nesta noite eu contei muitas mentiras, mas nenhuma delas foi pior que uma omissão: a câmera sete, a da área de serviço, é a mais reveladora de todas, porque às vezes eu vou pra lá, cubro a lente com um pano e abafo o microfone com a palma da mão, que é para ninguém me flagrar chorando. Se quiser, você pode ir para casa e comprovar. Quando não der para me ver em nenhuma das câmeras do ap, mas o sistema indicar que eu estou lá, aciona a sete: você vai ver tudo escuro, mas aumente o som que vai dar pra ouvir uns soluços bem baixinho. Essa sou eu.
André mira fundo nos olhos de Fabi, duas câmeras molhadas e com íris sinceras. Consegue se olhar por dentro e, na tela de seus pensamentos, observa medos diversos: de seu poder de magoar, de errar e, principalmente, de desperdiçar. Fabi puxa o cigarro para a boca e solta a mão de André, que cai pela gravidade (da situação). Dá a última tragada e arremessa a baga para o meio da rua. Um carro passa e a faz rolar para a beira de um bueiro. O vermelho do fogo se inflama com a adição repentina de oxigênio, depois se esmaece e some no negro do asfalto. André precisa dizer algo, mas não sabe o que poderia falar que não se confundisse com a seqüência de cinismos que perpetrou tantas vezes naquela madrugada. Fabi clama por um sinal de vida ou revolta, mas não de indiferença. A urgência a faz remexer nos bolsos à cata de outro cigarro. Mas André é mais rápido que seu Zippo.
- Você tem durex em casa?
- Claro.
- E papel e caneta?

Apartamento 403 – 05:28:34 AM
Câmeras 1 a 35: fim

Mario Lopes

14 comentários:

Anônimo disse...

O que a pessoa não escreve pra aumentar a audiênica do blog, né??rsrs
Isso é próximo do que rola no teu abatedouro, ops, apartamento, ou do que vc gostaria que rolasse?rsrs Beijoca. Mazé

Adriana Amaral disse...

hahahah essa Mazé foi muito engraçada.

bem, muito boa a estória Mario!!!

Anônimo disse...

Mazé
Se fosse para aumentar a audiência do blog eu teria descrito cenas de sexo, e não rolou sexo.
No meu apartamento ainda não rolou a área de serviço, mas quem sabe...
Beijo, talentosa.

Mario

Anônimo disse...

Ssssssssssmack, valeu, Adri. ;-)

Charlie (assinei Mario lá em cima, sorry)

Juh disse...

Guuuu...
Como sempre, sem comentários né!!!
Perfeeeeeeito!!!

Bju da Ju...

Anônimo disse...

Eu me candidato para estrear a área de serviço. Hehe!

Anônimo disse...

Ju
Obrigado bem colorido pra ti.
Beiju-ju-ju

Charlie

Anônimo disse...

Anônimo
Se você for anônimA, eu te mando fotos da área de serviço.
Beijo de centrífuga

Charlie

Anônimo disse...

Manda as fotos para mim também! hahahahahahaha =P
Beijo,
Cá.

Anônimo disse...

hahahaha
Juro que nunca imaginei que minha área de serviço um dia podesse virar objeto do desejo.
Acho bem sem-gracinha, Cah, mas mando as fotos, sim.
Quer com ou sem a Léa (minha diarista)?
Beijo, Cah.

Charlie

Anônimo disse...

Charlie,
Isto é pergunta que se faça?! =P
Grrrr!!! hehehe
Beijos,
Cá.

Anônimo disse...

rsrs Cah, vamos então fazer uma permuta: eu t mando foto da minha área de serviço (sem a Léa) e você me manda da sua. Se você puder estar na foto de aventalzinho, saia acima do joelho e empunhando o tubo do aspirador de pó, seria ótimo. hehe ;-)
Beijo

Charlie

Anônimo disse...

Assédio sexual neste blog???
No creio...

Anônimo disse...

Que maldade, Anônimo. A Cah é minha miguinha. E o máximo que se ganha num assédio sexual virtual é um cyber sex, mas isso é assunto de outro post. hehe ;-)

Charlie