sexta-feira, 13 de junho de 2008

Sem essa...








Sem essa. No princípio era Eva, hoje é a Carrie do Sex and the City. O que vem a seguir? Mulheres sendo vendidas em uma prateleira de supermercado? Com etiquetas de “Informações Nutricionais: cada porção de 50 quilos do produto contém...”?






O protótipo da mulher ideal ou doutrinas de comportamentos exemplares vêem sendo pregados há tempos: a primeira da lista - Eva aparece na Bíblia como um ser inferior ao homem. Segundo a narrativa bíblica, foi Eva quem levou Adão a sucumbir à tentação e perder o paraíso; mais tarde, através da imagem da virgem Maria, a Bíblia também configurou a mulher ideal. Foi a partir dela que se gerou toda a estrutura do sexo feminino considerada correta e que de certa forma se mantém inalterada até os dias de hoje. Mãe, companheira e boa esposa, ela é o molde perfeito para qualquer mulher, para todos os tempos... “Disse, então, Maria. A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque atentou na humanidade de sua serva; pois eis que, desde agora, todas as gerações me chamarão bem-aventurada.” (Lc 1, 46-48); outra personagem bíblica com forte relevância é Maria Madalena, a santa prostituta. Tratada sempre pelos escritos bíblicos como uma mulher dotada de “espírito maligno”, nela se faz explícita toda a cultura patriarcal dominante - Madalena é a mulher que precisa ser silenciada, ainda que seja a custa de pedras que a soterram no episódio da lapidação. Depois da bíblia vieram outros livros, de história ou literatura; depois os jornais em 1800 e bolinha que veiculavam matérias que nada mais eram que projetos civilizadores divulgando normas de condutas elitistas; hoje é a revista Nova com os conselhos voltados à mulher moderna... “Siga nosso incendiário roteiro e atinja ao orgasmo em 12 minutos”. Tenha santa paciência. Será que isso não terá fim? C-h-e-g-a!!!






Dentre a lista do ideário feminista, além das questões de direito civil, estava à questão da opressão pela cultura masculina, a intenção de revelar os mecanismos psicológicos dessa marginalização e de projetar estratégias capazes de proporcionar às mulheres uma liberação integral, além do corpo e dos desejos. Tudo muito nobre, mas, será mesmo que a mulher, que viveu no auge do movimento feminista, entrou no mercado de trabalho puramente pelos ideais ou talvez este fato se devesse à pobreza, à preferência dos patrões por operárias, por essas serem mais baratas e mais ‘boazinhas’ ou então, simplesmente por causa dos apavorantes massacres de homens nas grandes guerras? Difícil dizer os reais motivos, fato é que as mulheres invadiram o mercado desde esta época e, hoje, estão aí, ocupando diversos cargos e atuando em tantas profissões. Mas, e toda a questão da opressão foi esquecida? Todos os dias revistas estampam falsa liberdade, ditam condutas e valores. A mídia mostra a forma ‘certa’ de se vestir, diz quantos quilos a mulher deve pesar, ensina como se maquiar, como transar, como conquistar o homem perfeito etc. Igualzinho aos jornais de 1800 e bolinha. Simone de Beauvoir, coitada, deve se revirar no caixão quando as revistas femininas chegam às bancas.






Enfim, pro inferno com todas estas classificações e estereótipos e ideais da imagem da mulher. Morte a todos aqueles que acham que a mulher deve ser feminista ou deve ser dona-de-casa e mãe de família, que ela deve ser isso ou aquilo. Morte as fórmulas e aos modelos (inclusive ao meu modelo – que, de certa forma, estou defendendo aqui neste texto).






E... Viva la Revolución!!! A revolução verdadeira, aquela onde todos os padrões são derrubados, principalmente os internos e os do ego. Que as verdade e mentiras sucumbam diante dos olhos e que você, só você, seja capaz de ditar suas próprias regras. Sem máscaras, sem pudores, sem medos e sem hipocrisia. Alguns dirão que tudo isso não passa de utopia. Quem sabe?! ... Mas, como diria Mario Quintana...






"Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo..."







Mônica Wojciechowski

4 comentários:

Anônimo disse...

Nossa Mô, que revolta. Acredito que podemos fazer a nossa revolução interna. Brigarmos com nós mesmas, para deixarmos de educar nossos filhos com esta filosofia patrialcal.
Se cuida!
beijos
Verô

Anônimo disse...

Mônica

Eu não gosto muito de comentar sobre esse assunto, mas gostaria de deixar aqui que concordo com você. Na verdade, até essa questão de esteriotipos foi um dos fatores que contribuiram para o fim do meu relacionamento. Como eu não concordei com eles, acabei por definindo que não seria eu um impositor.

Mas: um belo texto!

Anônimo disse...

Mopi, quero te aplaudir (e em pé) pela inquietante e subversiva provocação publicada nesta sexta-feira, 13 (começar o dia com seu texto foi quebrar o mau agouro da data). Eu realmente já estava entediado com tantos comentários de que “o filme é uma graça” e coisa e tal. Estava faltando a pimenta, que é justamente um ingrediente feminino até o talo. E ele veio de você. O texto é um bálsamo de lucidez em cima de um tema tão açucarado e lacrado como os guias sexuais da famigerada revista Nova.
Só quero fazer uma consideração: embora a Bíblia me pareça ter vários impropérios, desta vez vou ter de partir em defesa dela, e me sinto bem à vontade porque não tenho religião, apesar de ser cristão.
Quanto a Eva, esse estigma de que o Livro Sagrado foi machista no Genesis é um equívoco que vem sendo perpetuado por uma repetição mecânica que carece da devida reflexão. Só mesmo Eva poderia ter pego o fruto proibido. Isso porque nós, homens, somos acostumados a acatar ordens, é algo que vem no sangue com nossa sina belicista e hierárquica, “esquerda-volver-direita-volver”. O membro rijo parece às vezes enrijecer também o raciocínio. Diga a um subordinado no escritório para nunca entrar em uma dada sala e o bocó passará a nem mais olhá-la. Mulheres são muito mais curiosas, flexíveis e espertas. Se a Bíblia fosse reescrita por um roteirista hollywoodiano, ele novamente faria Eva pegar o fruto. Alguém consegue imaginar Adão tendo esta atitude ao invés dela? Não. E isso não apenas por a história estar impregnada em nosso inconsciente, mas também porque seria inverossímil. Não por acaso o arquétipo do camaleão é muito mais visto no cinema em forma de mulher do que de homem. Quando surge em um representante da ala masculina, o sujeito não é lá muito espada (vide “O Talentoso Ripley”). E a Bíblia não diz “E Eva, aquela safada, pegou o fruto” ou “E Eva (só podia ser mulher) pegou o fruto”. Foi Eva simplesmente. E se há um motivo, este motivo é a coerência. Eva não é sacana por conta disso, só tem mais atitude. Onde você vê culpa eu vejo sagacidade. Adão ficou conformado com todo o paraíso, Eva é que foi inquieta, é que queria mais, era o agente ambicioso em contraponto ao maridão acomodado com casa, comida e folha de parreira lavada. Eva foi a primeira faísca de subversão da humanidade. Foi quem ousou pensar. Não é por acaso que a imensa maioria dos semioticistas atribuem à árvore do paraíso o significado de árvore da sabedoria. Como também não é por acaso que são as mulheres que vão às sex shops buscar aditivos para a relação, e não os maridos.
Quanto a Maria, ela nunca foi um padrão a ser seguido. Pelo contrário, a Bíblia deixa o tempo todo claro que ela é absolutamente inatingível. Começando por ter ficado grávida virgem e terminando por sua ascensão aos céus sem morrer. Ou seja, é totalmente inimitável.
E quanto a Maria Madalena, bem, acho que a tolerância e até a defesa da Bíblia para com ela ficam muito evidentes com o episódio do “e que atire a primeira pedra...”.
Mas, enfim, a tônica do seu texto não é a Bíblia e Sex And The City, mas sim a perpetuação de modelos, e nisso você está coberta de razão. Faltou apenas citar a Barbie, ícone máximo do doutrinamento consumista logo na infância. Nem Maquiavel em seus melhores dias seria tão ardiloso como os marqueteiros de plantão.
O que me incomoda não é o fato de termos “novos” modelos com Sex And The City, mas sim de termos modelos execráveis. Samantha Jones, por exemplo (apontada pela edição especial de dez anos da Revista Época como “ícone de uma geração”), é um poço de vulgaridade e alienação. Ela não se importa em gastar em um anel uma cifra que poderia salvar da fome pelo menos meia dúzia de famílias etíopes. Pra piorar, nem ecologicamente corretas elas são, já que, ao serem atingidas por ecologistas que protestam contra seus casacos de pele à saída de um desfile de moda, fazem pouco caso das líderes do piquete, encarnadas no filme como verdadeiras vacas loucas, babando e urrando contra a crueldade (e indiferença) com o reino animal. E sobrou até para nós: a queridinha Charlotte York, quando acampada num resort cinco estrelas no México, se recusa a comer qualquer coisa que seja de lá porque... está no México. Como da fronteira do Texas para baixo somos todos xicanos, é óbvio que a moçoila também não comeria um amendoim que fosse em terras tupiniquins, como se nossas cozinhas fossem redutos de ratos e excrementos de toda sorte. Na cena em que surge o assunto do nojo internacional, o cinema todo ri, sem se dar conta de que está rindo de si próprio. Em resumo, se a continuidade dos modelos que você apontou incomoda, Mopi, mais preocupante ainda é termos esse quarteto como ícone da mulher moderna.
Você também tem total razão com relação à vulgaridade hiperbólica das revistas femininas. Sinceramente, quando estou na fila do supermercado, fico ruborizado por vocês ao ver tantas “Tititi”, “Contigo”, “Nova” e congêneres se exibindo com capas chamativas, convidando os passantes a saber com quem a estrela da novela das oito está traindo o astro da novela das sete. A sorte de vocês é que as mulheres que adquirem essas publicações estão quase que invariavelmente acompanhadas de maridos que empurram o carrinho com o ventre saliente de cerveja, caminhando arcados pelo peso do tédio no rosto enquanto pensam no jogão do próximo sábado. Claro que na ocasião vão comentar sobre a vergonha do Corinthians contra o Sport e não sobre a vergonha que a esposa adquiriu no supermercado.
Mopi, felizmente houve avanços consistentes na saga feminina no século passado. Mas está na hora de outro bem mais significativo. E não é o de queimar sutiãs, mas sim bolsas Louis Vuitton.
Beijo
Charlie

Anônimo disse...

Respostas:

Verô, sim, revoltadaaaaaaaaa. Você não sabe ainda? (risos)

Acho o seriado divertido, mas, não gosto de pensar que ele tornou-se símbolo da mulher dos dias de hoje.

****

LG, que triste, acabar um relacionamento por isso. Enfim, coisas melhores virão. Hehehe. Assim eu espero. Sorte pra vc.

Mario, adorei seu comentário-texto. Sério, fiquei muito feliz com as coisas que vc colocou. Sobre a questão da bíblia, é papo para boteco, tá? hihihi.

Mônica