domingo, 15 de junho de 2008

Sex Or The City



O repórter espanhol do CQC (a franquia mundial de telejornalismo irreverente capitaneada no Brasil pelo Marcelo Tas), ao cobrir a avant-première do filme Sex And The City, acompanha as estrelas da superprodução que desfilam pelo tapete vermelho e dispara no melhor sotaque spanenglish: “what do you prefer: sex or city?”. Por trás da pergunta infame (e de resposta óbvia) há uma constatação inquietante: o filme e a série não têm por tema nem sex nem city, mas sim love. Aliás, love em tudo, do cachorrinho ao chaveiro. Alguns diriam que seria amizade o tema, mas ninguém agüentaria ver episódios de quatro amigas discutindo apenas sobre bolsas e botox, portanto é o amor que sempre esteve em foco. Mas então, por que “sex and the city”? Estranho indagar isso depois de tanto tempo de série e um longa-metragem badalado, mas vale refletir. Bom, por city podemos encarar o estilo urbano das garotas de Manhattan. Ponto. E sex, bem, sex é sex, sex e mais sex. Ou seja, enquanto o amor não chega e a cidade ferve, aproveite a vida adoidada. E aí a pergunta do CQC espanhol conduz a outra: qual das integrantes do quarteto de Sex And The City é que mais incorpora o espírito da série na vida real?
Todo mundo tem uma certa compulsão em identificar traços da obra que se relacionem com seu autor ou intérprete. Parece que torna o trabalho mais legítimo, mais real e, de certa forma, mais “confiável”. Courtney Love, Janis Joplin, Madonna, Vera Fischer e outras musas conquistaram notoriedade por satisfazerem essa nossa obsessão em encaixar o personagem na moldura do ser humano que o encarna. Voltando às musas da série feminina de maior frisson de todos os tempos, qual seria a sua aposta de quem é a garota mais Sex And The City? Pois a resposta está documentada, publicada e distribuída pelo mundo todo: Kim Cattrall, a Samantha Jones. A afirmativa pode revoltar as fãs de Sarah Jessica Parker, que interpreta a carismática Carrie (protagonista da série), mas fica difícil competir com sua colega loira e voluptuosa, senão vejamos...
De largada, Kim perde pontos perante as colegas de série: nasceu na Inglaterra (só se tornou cidadã novaiorquina aos 16), mas essa é a única “mancha” no currículo da moça, que acumulou ao longo da carreira duas indicações ao Globo de Ouro e uma ao EMI. Kim pode não ser na vida real a ninfomaníaca voraz da série americana, mas é sem sombra de dúvida a que mais entende de sexo. Tanto que escreveu um livro ricamente ilustrado sobre o assunto e com o emblemático título de “Satisfação – A Arte Do Orgasmo Feminino”. Convenhamos que é preciso muita personalidade para uma figura pública escancarar aos quatro ventos a forma de sexo oral que mais aprecia ou a massagem anal que mais recomenda. Kim não parece muito incomodada em ter sua privacidade jogada às favas, pelo contrário, ela mesma se abre (literalmente) com suas leitoras para dar dicas de como chegar ao nirvana sem escalas. Acompanhe agora as informações privilegiadas (e nada confidenciais) mais curiosas de Kim:
• Até 1997, Kim levava uma vida sexual insatisfatória, ou, nas palavras da própria atriz, ela se convenceu “de que simplesmente não era uma mulher tesuda”. Uma declaração que seria por certo contestada por inúmeros admiradores ao redor do mundo. Essa situação era, logicamente, incompatível com a personagem que passou a interpretar a partir de 1998, ou seja, Kim teve de trazer Samantha Jones para sua vida e não o contrário. Aliás, a personagem a inspirou tanto que Kim tornou-se escritora especialista no assunto.
• Botar a boca no trombone (sem duplo sentido, OK?) é essencial: “se você está sexualmente insatisfeita, diga alguma coisa. Se não o fizer, sua decepção vai se agravar e trazer mais problemas”. Em suma: fingir que está tudo bem em um relacionamento sexual morno ou frio é dar de comer à própria frustração. E ela só cresce.
• Segundo Kim, “a técnica sexual é como a musical (...) Toque música com seu amor. Toque a canção preferida dele, ou dela, e ela se tornará também a sua favorita”. Apesar de ser um conselho um tanto vago, não se pode negar que sexo exige ritmo.
• O estímulo da língua no clitóris varia de mulher para mulher quanto ao sentido do movimento: algumas preferem mais o sentido horário, outras o anti-horário. Kim não explica o motivo. Talvez isso tenha a ver com o local onde acontece o sexo ou o país natal dos parceiros. Confuso? O fato é que no hemisfério sul a água desce pelo ralo no sentido horário, e no norte no anti-horário. Como mulheres, fluídos e marés têm muito a ver, essa é uma especulação que pode não ser tão estapafúrdia quanto parece.
• Kim sugere um método de estimulação oral que batizou de Turbolíngua: ele tem por principal orientação o passeio estratégico do músculo mais poderoso do corpo (sim, a língua) pelo clitóris, com variações de pressão, velocidade e trajetos. O principal movimento é o do desenho de um “8” sobre o clitóris, permanecendo a ressalva de que há mulheres que o preferem em sentido horário e outras em sentido anti-horário. Na verdade, não é tão simples de movimentar a língua tracejando um “8” em terreno liso, de revelo irregular e em constante movimento. Bom, pelo menos a Kim poupou a macharada de um trajeto com o desenho da pista do circuito de Monza.
• Kim sugere que se faça, nas palavras dela, uma “conversa” com o clitóris: “... esperar que o clitóris se agite, fazer um círculo (com a língua) em torno dele, esperar por outro repuxão, fazer outro círculo e assim por diante”. E quem foi que disse que homem não gosta de discutir a relação?
• Sim, o Ponto G existe, Kim garante, só esqueceu de dar o endereço. Tem ilustrações com um ícone em sugestivo formato de sorriso sinalizando a região aproximada de localização, mas sem muita precisão e ficando com cara de “é mais ou menos ali”. Porém, a escritora deu uma pista: ele é “a área mais sensível dentro dela (vagina)”. Valeu, hein, Kim.
• Multi-estimulação é o canal. Kim propõe penetrações de três dedos na vagina, um no ânus e a língua no clitóris, tudo ao mesmo tempo e com movimentos simultâneos. E ainda que o mancebo faça perguntas (talvez por mímica, já que a boca estará ocupada) para saber se está tudo bem, do tipo “está legal?”. Uma resposta interessante poderia ser: “olha, o dedo mínimo deveria penetrar mais, o anular precisa de mais movimentos de vai-e-vem, o médio pode se mexer para os lados, o indicador bem que poderia tocar o meu Ponto G e a língua faria mais sucesso descrevendo um “8” em sentido anti-horário”. E caberia ainda um arremate: “ah, e esse polegar aí, tá fazendo o que parado?”.
• Kim contra o nojinho: “Instantes antes da ejaculação, ele pode retirar o pênis e subir-lhe até a boca: ela perceberá e o estará esperando”. Sim, é isso mesmo que você entendeu, Kim garante que mulheres “adoram essa manobra e a querem bem rápida, para receberem na boca os jatos de esperma – assim como ele, em outro momento, absorveu parte de seus líquidos vaginais”. Parece uma troca justa. Mas as fãs da série que se identificam com a Charlotte York devem ter corrido para o banheiro ao ler isso.
O único ponto em que Kim fica devendo é justo na penetração. Tudo bem explicadinho, com desenhos elucidativos, só que carecendo de novidades ou técnicas que não se tenha ouvido falar antes. Mas tudo bem, isso não tira os méritos de Kim, que se mostra realmente uma grande praticante da arte (aliás, o mote do livro é de que você pode ser um “artista”). Ela faz jus ao seriado e ao filme de ostentarem o título de Sex And... Sex And... Sex And O Que Mesmo?...


Mario Lopes

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