quarta-feira, 11 de junho de 2008

Sex and the City e o imaginário feminino

Fiquei algumas semanas "por fora" do Desaforadas por motivos completamente involuntários, mas, finalmente retomei o ânimo e cá estou pra comentar Sex and the City - The Movie. Vi o filme no domingo com a sessão absolutamente lotada no Artplex. Casaizinhos, muitas mulheres e bees. É impressionante o poder de identificação que um ícone da cultura pop é capaz de produzir. Eu nem deveria me impressionar com isso, afinal, a série foi um fenômeno de audiência mas não achei que além dos fãs da série a coisa fosse atingir esse patamar. O seriado tinha bons momentos, apesar de o final ter sido muito "cinderela" para o meu gosto.

Aliás uma amiga minha, Márcia Messa defendeu uma excelente dissertação de mestrado sobre SATC (vocês podem ler a dissertação aqui) analisando justamente as reconfigurações da imagem feminina na recepção das fãs/espectadoras do seriado. Mas voltando às vacas frias acho que no filme houve um exagero em algumas características que acabaram no meu entendimento causando uma certo "surto" nas personagens que me soaram mais histéricas do que durante todas as temporadas. Então, vou fazer meu papel de advogada do diabo e dizer que apesar de ter gostado, achei o filme fraco em relação ao que ele poderia ser caso durasse menos tempo e expandisse as temáticas da série e não as concentrassem, achei que passaram um tanto no tempo. Pensei em alguns prós e contras.

Alguns pontos negativos:

1) a trilha sonora: como obcecada por música, achei a trilha muito ruim, sério mesmo,as músicas não foram bem escolhidas, não há canções marcantes;
2) o exagero do casório de Carrie: tudo bem que é só um filme ficcional, mas sinceramente se eu fosse o Mr. Big tb sairia correndo daquele casamento, achei que até para Carrie estava um tanto over aquela cerimônia, apesar do magnífico vestido da Vivienne Westwood. Mas isso não justifica o que Big fez. De qualquer forma era o plot do filme... rs
3) Charlotte: eu nunca simpatizei muito com a personagem, mas achei que no filme ela estava especialmente chata e maniática.
4) A falta de amigos hetero: O que sempre me incomodou um tanto na série e no filme eles extenderam isso é o fato das quatro não terem nenhum amigo heterossexual. Acho isso um erro impecável, pois mostra um conflito de gêneros um tanto quanto desnececessário. Eu por exemplo tenho uma série de amigos heteros que sempre estão lá quando eu preciso de conselho, bater papo, etc. não gosto da supervalorização da amizade feminina em detrimento à masculina.

Os pontos positivos:
1) Amizade: esse pra mim é o ponto central da série e do filme. Ao ver o filme, lembrei muito do meu melhor amigo que tantas vezes me acolheu em casa quando eu ia choramingar devido a algum namoro desfeito e ficávamos horas vendo vídeos do ABBA, Madonna e outros tantos. Também lembrei muito das minhas amigas lá de Poa que estão há tanto tempo em minha vida. Já passamos poucas e boas juntas e sei que posso contar com elas forever and ever. A amizade é sim uma forma de amor e das mais nobres. Amigos estão lá pra te dar a real, pra sofrer e amar, torcer e xingar contigo. Sem dúvida as personagens de SATC prezam a amizade.
2) NYC: que NYC é tudibom isso creio que não há um ser no planeta que discorde (rs, brincadeira)
3) Os modelitos: mesmo com o megaover excesso de merchandising ainda achei as combinações e tudo mais uma excelente amostragem. Ok, que poucas pessoas conseguem andar tão "montadas" o tempo todo, mas tem coisas muito legais para serem vistas ainda mais considerando que o filme é entretenimento e não "cabecice" do Glauber Rocha e nesse ponto ele cumpre sua função. E até eu que não tenho a menor intenção de usar vestido de casamento adorei o Vivienne Westwood - que caso money eu tivesse p/ comprá-lo de preto tingiria hahahahah (eu não gosto de vestidos brancos). Assim como o teórico Collin Campbell também não consigo "engolir" a análise marxista do consumo, prefiro a idéia da subjetividade e das apropriações românticas, em certa medida mas menos "policialescas" e vigilantes dos atos de consumo. Mas é melhor eu parar com a digressão teórica... rs
4) O Escapismo: como falei anteriormente, se há algo que SATC consegue é proporcionar muito bem um "escapismo" do cotidiano ao mesmo tempo em que gera relações de identificação. E é óbvio que todo mundo vê que as quatro amigas são estereótipos e não modelos de conduta, mas a partir desses estereótipos se estabelecem as relações de interpretação. O interessante mesmo é o somatório das quatro como uma perceção de um determinado tipo de figura feminina no processo histórico, ou seja, não que elas sejam o exato retrato de uma geração, mas sim possuem alguns elementos que remetem determinadas mulheres à sua relação consigo mesmo e com a sociedade da qual fazem parte. Eu por exemplo, não me vejo em nenhuma das quatro, mas consigo ver alguns elementos de cada uma em alguns períodos da minha vida e da vida das minhas amigas, talvez essa coisa meio fluida e tênue é que gere maiores ou menores identificações ou mesmo aceitações ou resistências por parte das consumidoras de SATC. Só por isso ele ja se apresenta como um interessante produto midiático que está além da superficialidade que muitos críticos lhe atribuem é também nisso que reside seu valor social.

Para encerrar, eu me diverti no filme mas como falei antes alguns plots ficaram um tanto furados.

LadyA.

4 comentários:

Anônimo disse...

Sentimos saudades! Fico feliz que tenha retornado com tanto ânimo.
;)
Verô

Adriana Amaral disse...

obrigada Verô

Anônimo disse...

Isso mesmo, Adri. Que outra Desaforada faria uma lista de pontos negativos de Sex And The City. hehehe
Beijo

Charlie

Cris Smith disse...

Adorei a tua resenha! Absolutamente tudo a ver.

bjs,
cris