quarta-feira, 8 de julho de 2009

Nostalgia


O tempo passa num misto intenso de lentidão e rapidez, e deixa e leva tantas coisas, sem nem sequer pedir permissão.
Naquele instante, tudo paralisou, milhões de fatos se materializaram à sua frente, era como se estivesse acontecendo tudo novamente. O cheiro forte de chocolate quente invadia toda a sala, mas não era o cheiro de uma bebida qualquer, era aquela, exatamente aquela, que tomava enquanto assistia a qualquer desenho na televisão, distração.
O cheiro mudara completamente, se transformando na essência do perfume que estava no ar, junto com os diálogos interrompidos, não dava mesmo para confundir, intuição.
O cenário muda, os cutucões no ombro aumentam, um de seus amigos dispara perguntas inapropriadas, bem na hora crucial da aula de matemática do colegial, (in)satisfação.
É a sua melhor tentativa de virar para trás e... um vago de imagens, e logo uma estrada, uma bolsa de mão, a melhor viagem, a música preferida toca, e a sensação de estar dançando em algum lugar desconhecido, ou talvez em cima da própria cama, diversão.
Dá pra ver de longe suas bochechas rosadas, e seu suspiro, do que restara do melhor beijo que podia ter dado, paixão.
Algumas pessoas ansiosas, balões pendurados por toda a casa, palavras sinceras, nada importava, recepção.
Sua voz de confiança atinge todos os níveis, todos os móveis daquela casa, e mata todos os seus medos, deixando consistente um sorriso, do qual ninguém jamais mudaria,
familiarização.
O relógio marca 06h, sua melhor amiga grita, avisando para não dormir na melhor parte do filme, não agora que aguentara a madrugada inteira conversando sobre tudo, compreensão.
O gosto amargo da bebida ingerida rapidamente invade toda a boca, a percepção começa a falhar e todos olham, e ninguém realmente vê, ilusão.
As imagens começavam a ficar transparentes cada vez mais rápido e, por fim, sumiam. Os olhos abriam-se com calma e percebiam que a nostalgia havia tomado conta de tudo novamente. Dois minutos e lá estava, sentindo absurda falta das coisas que ainda não viveu, das coisas que ainda
não fez, das pessoas que nem sequer conhece, e de tudo que ainda nem podia imaginar sentir.

Nostalgia descreve uma sensação de saudades de um tempo vivido, frequentemente idealizado e irreal.
Nostalgia é um sentimento que surge a partir da sensação de não poder mais reviver certos momentos da vida.
O interessante sobre a nostalgia é que ela aumenta ao entrar em contato com sua causa e não diminui como o sentimento da saudade.

Quantas vezes a gente se pega pensando naquela situação, ou na pessoa que realmente nos marcou, desejando revive-la intensamente, e se frustra todas as vezes, quando lembra que isso é impossível.
Às vezes eu acho que são nossas lembranças que nos fazem ver adiante, no fundo, a vontade que se tem de aproveitar cada minuto que vem pela frente, é porque sabe que vai poder lembrar-se disso quantas vezes quiser. O momento de estar vivendo te faz feliz, mas apenas lembrando-se disso é que você pode colocar a cabeça no travesseiro e dizer que valeu a pena.

Não se deve reprimir a saudade, a lembrança e nem a nostalgia. Afinal, como dizem por aí, 'recordar é viver'.

Aquilo que chamamos de recordações são os nossos pensamentos de agora, as nossas exprobrações de agora, a nossa defesa de agora. Por mais longa que seja nossa existência, temos nossas lembranças - pontos no tempo que o próprio tempo não consegue apagar. O sofrimento pode deturpar meus vislumbres do passado, mas mesmo diante do sofrimento algumas lembranças se recusam a perder seja o que for de sua beleza ou de seu esplendor. Pelo contrário, elas permanecem sólidas como pedras preciosas.


Ana Paula Campos

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito legal, Aninha. Uma profusão de memórias olfativas, auditivas e visuais que são, ao mesmo tempo, muito particulares e universais. Do jeito sensível como você percebe a vida, com certeza vai colecionar muita nostalgia doce ao longo do tempo. Parabéns.
Beijo.

Mario