terça-feira, 3 de agosto de 2010

Fênix Colorida


Um dia, desistiu. Não agüentou o tranco. Bastava de tentar, de bater a cabeça, de acreditar que daria certo. Não ia dar, não deu, e por isso, tudo acabou. Não importava mais as coisas boas que sentira, os momentos alegres que passara, as canções bonitas, os mantras de esperança. Não compensava mais dedicar-se e não obter retorno, a ficar esperando uma recompensa, a viver aquela rotina sem nada mudar, a ver as mesmas paisagens nos caminhos repetidos diariamente. Já não bastavam as palavras que tentavam motivar, as sessões em psicólogos, as aulas de yoga, os cursos de artesanato. Não, apenas não. Não adiantava, e mesmo que quisesse, já não conseguia respirar sem doer, sem temer, sem lembrar, sem sofrer. Aos poucos, ia entregando-se as razões da tristeza e da dor. Sabia que era assim, simplesmente assim que acabavam as coisas e apenas estava acelerando o óbvio, o destino. De repente, eis que de repente, uma voz soa em seu pensamento. Já tivera ouvido aquela voz antes, em algumas vezes na sua vida, mas não tão forte e claramente, como se estivessem tocando uma perfeita sinfonia. A voz cantava, como se regesse todas as notas que um corpo poderia emitir, movendo os pensamentos e convocando-os a fazer parte daquela orquestra. Uma voz que aos poucos a mexiam e faziam-na dançar. Daquele cenário cinza, aos poucos uma claridade emanava. Mesmo que o destino de todos fosse retornar ao pó, ainda não era a hora dela de incorporar no mundo cinzento. Ainda tinha que pintar algumas cores aqui na Terra, mesmo que ainda não soubesse quais. Talvez tivesse usado o rosa e o roxo demais. Estava na hora de usar o amarelo e o vermelho também. Aos poucos, voltou para o cenário da vida, agora, em tons claros e limpos. A voz adormecera, a canção ficara gravada na mente: pela primeira ouvira a voz do amor próprio. E assim, como Fênix, retornou das cinzas mais colorida do que nunca.


Bianca Nascimento

Um comentário:

Anônimo disse...

nossa, excelente texto Bih, muito bom mesmo, quem imaginava que uma pessoa triste estava sendo comparada com uma fenix...um desenrolar muito show, prende a gente no texto desde o início...
show de bola, meus parabéns novamente....