sábado, 3 de abril de 2010

Hoje tem estreia no blog. Larissa Santin é uma jornalista criativa, persuasiva e volátil que tem vários vícios (e não quer parar com nenhum deles...). Trancou ciências sociais, mas não sua consciência social, indo trabalhar em um serviço de voluntariado para crianças. Pinta quadros, anda de bike e é ex-praticante de Tai Chi Chuan. Tem uma gata e um golden retriever. Geminiana amante de Érico Veríssimo, Voltaire, peixe cru, abraço de vó, fogueira e de... água ("não posso ver uma poça que me jogo"). Bem vinda ao time, Lari, que você goste tanto daqui quanto de banho de chuva.

Jacarepaguá Blues





- “Tão indecente, foi o jeito que essa mina descarada, arranhada, repulsiva me jogou de repente. Eu já sabia das suas intenções maléficas contra mim por isso me precavi com todo alho e cebola, que eu consegui comprar. Mas o que eu não sabia era que você era exata e precisa nos seus movimentos, por isso confesso: eu to num terrível astral.”
Cantarolava, enquanto cortava 3 cebolas médias e 5 dentes de alho numa tábua de madeira escuta. No fogão, uma panela grande. Na colher, manteiga. Acendeu o fogo, levou a manteiga até a panela, que de quente, derreteu. Jogou as rodelas perfeitas de cebola e alho e escutou aquele som característico acompanhado de um cheiro mais característico ainda. Era meio dia.
Era uma e quinze. “Onde está esta desgraçada?”, pensava, sentada na cadeira da cozinha, panela com tampa, fogo apagado. Pobre criatura, fora feita pra agüentar altos níveis de estress por conta da espera. Esperar, esperar, esperar. Essa era sua rotina. E nem sabia dizer se ainda era feliz. Se não fosse, conseguiria viver sem ela?
Era uma e meia. Não. Não conseguiria viver sem ela. Levou uma mão sobre os olhos a fim de enxugar as lágrimas. Estava chorando por uma hora e meia, agüentaria uma vida inteira? Não.
Era duas horas. “com quem ela está?”, ela pensava. Ela ou seu demônio interno. A insegurança e a desconfiança dando sinais de existência. Há tempos desconfiava das relações de infidelidade. Levou a mão à testa e coçou. Mal sinal.
Era duas e meia. Quando, de repente, escutou a porta de casa se abrir. Levantou-se da cadeira azul de madeira revestida e a esperou se aproximar.
- Onde você estava?
- Mal chegei e já estou sendo interrogada pelo FBI. Cruzes!
- Isso não é brincadeira, você ta entendendo? Não estou brincando.
- Eu também não!
- Pare. Onde você estava?
- Meu Santo Jesus, eu estava trabalhando!
- Você sai às 13 do trabalho.
- Sim, e hoje saí às 14. Tem algum problema?
- Claro que tem!
- Ah é?
- Com quem você estava?
- No meu trabalho?
- Não, espertinha. Eu sei que você não estava no trabalho. Confesse.
- O que? Confessar o que? Ta louca?
- Sim, estou louca mesmo. Louca de agüentar você, com suas mentiras agora cada vez mais freqüentes. Porque você não segue sua vida? Porque continua comigo?
- Olha, não to afim dessa conversa.
- Você ta vendo? Além de tudo não quer conversar!
- Mas olha o nível dessa conversa! Eu estou te falando que estava no trabalho até mais tarde hoje. O que que é hein? Qual teu problema?
- O problema é que é mentira. Confesse!
- Não vou confessar nada, sua maluca!
- Ahá! Mas tem algo estranho acontecendo. Me diz. Você tem outra?
- Escute! Essa conversa está encerrada. – dando as costas.
- Confesse, confesse! – berrava pelo corredores enquanto seguia a companheira até o quarto, sem resposta. Uma grande batida na porta do banheiro testemunhara o fim dos dias. Ela sentou-se na cama, olhou tudo em volta, olhou mais uma vez a porta fechada à sua frente e finalmente compreendeu que obteve sua confissão.
- “ Mais um capítulo, da novela colorida, dolorida que eu pedi pra ver…” – continua a canção.





Larissa Santin

Um comentário:

disse...

Adorei o blog de vcs! Muito criativos e interessantes os textos postados ^^
Bjos