quarta-feira, 14 de abril de 2010

Shirley E Os Gigolôs


Shirley era uma adolescente de 17 anos de idade filha de Romilda, uma mãe solteira que possuía um salão de beleza. Esta garota vivia em conflito com a sua mãe, pois ela nunca falava quem era o seu pai. Além disto, Romilda era muito rígida, pois não deixava a filha namorar, nem ir às festas e seu horário era muito controlado. A adolescente sempre brigava com a mãe, pois esta senhora trocava de namorado todo o mês e além disto, quando Romilda estava apaixonada fazia questão de pagar a maioria das contas dos seus companheiros.Toda vez que a garota reclamava disto, ela apanhava da cabeleireira. Então, a jovem passou a pensar assim:
- Um dia terei meu próprio salão de beleza, já que estou aprendendo a função com a minha mãe e nunca nenhum homem me explorará!
Shirley encontrava consolo nos filmes que locava na locadora em frente a sua casa. Mas havia um problema: ela achava Susan, a dona da locadora, muito estranha. Pois esta empresária usava os cabelos raspados, tinha sobrancelhas juntas em seu rosto que nunca estava maquiado, era robusta e usava roupas masculinizadas. Sempre quando Shirley aparecia na locadora, a dona tentava puxar conversa oferecendo um filme e comentando sobre ele. Geralmente a adolescente prestava atenção aos comentários das películas e assistia as obras em casa. Porém, ela nunca deu brecha para que Susan tentasse alguma intimidade.
O tempo passou, Shriley foi aprovada no vestibular no curso de Estética. Porém, para fazer economia, continuou morando com a sua mãe, mesmo com a relação conflitante e para se distrair a moça continuou encontrando consolo nos filmes da locadora. Os anos voaram, Shirley completou trinta anos quando viu que a saúde da sua mãe estava complicando-se, de repente, sem nenhum motivo aparente. Assim a moça acompanhou Romilda ao médico e os exames comprovaram que a mulher estava com o vírus HIV. No instante em que soube que era portadora do vírus da Aids, falou o seguinte para filha:
- Eu sempre tive medo da solidão, por isto trocava de companheiro constantemente e pagava todas as contas deles com medo de ser rejeitada. Fui iludida por gigolôs e acabei deste jeito.
Shirley levantou a cabeça, não abandonou sua mãe e fez companhia a ela até o seu último suspiro. Quando Romilda faleceu, sua filha levou o salão de beleza em frente, sempre tratando bem as pessoas e fazendo cursos para atualizar-se. Mas ela estava sempre sozinha e só encontrava consolo nos filmes da locadora.
Um certo dia, já com 37 anos de idade, Shirley teve uma crise de solidão, entrou em depressão e começou a chorar. Por isto ela resolveu navegar na Internet. Desta maneira a moça estava verificando seus e-mails e, de repente, viu que o título de um deles era assim: Personal Friend- A Solução Para Sua Solidão.
Ela abriu a mensagem, rapidamente, e leu a seguinte propaganda:
“- Personal Friend Ricardão:
Um dos problemas, do mundo atual, é a solidão!
Portanto, mulher, se você está sozinha chame o Personal Friend Ricardão que ele trará momentos de felicidade a você. O Personal Friend Ricardão tem curso superior, baila mais de trinta tipos de dança e fala cinco línguas estrangeiras. Fisicamente ele é: moreno alto, bonito e sensual...”
Ao ler esta parte, Shirley pensou:
- O que é isto?!
- Moreno, alto, bonito e sensual?!
- Isto parece uma música dos anos oitenta gravada pela banda Erva-Doce.
Mesmo assim a donzela continuou lendo a propaganda e entrou no site do Personal Friend. No portal, deste rapaz, havia fotos provocantes dele. Pois este homem parecia uma mistura de: Reynaldo Gianecchini, Victor Fazano, Tom Cruise e Fábio Assunção.
Porém, o que assustou mesmo foi a seguinte frase no final do “site”:
- Cada consulta R$100,00.
Desta maneira a jovem refletiu:
- Cada consulta R$100,00?!
- O termo consulta para este tipo de profissão é estranho. Afinal, um Personal Friend não é um médico e muito menos um advogado.
Assim a moça olhou para as fotos daquele profissional novamente e, hipnotizada por elas, marcou uma consulta com o moço. Deste jeito os dois encontraram-se num shopping, onde Shirley contou sobre toda a sua vida ao profissional. Após isto foram ao cinema e a uma danceteria. Todas as despesas foram pagas pela moça, que também pagou o dinheiro da consulta para o Personal Friend.
A partir daquele dia Shirley passou a marcar encontros com Ricardão toda a vez que sentia solidão. Ela deixou até de locar filmes e isto intrigou Susan, que passou a observar a casa da vizinha vinte e quatro horas por dia.
Após um ano usando os serviços do Personal Friend, Shirley convidou o rapaz para morar na sua casa com todas as despesas pagas, como sempre. Ricardão topou, mas não abriu a mão das suas outras clientes. Quando Shirley trouxe o Personal Friend para a sua residência, foi observada por Susan, que ao mesmo tempo estava navegando na Internet dentro da sua locadora. Naquele mesmo instante ela abriu um link que caiu no site do Personal Friend, assim a empresária adivinhou o que estava acontecendo na casa da vizinha. Seis meses depois a dona da locadora viu Shirley apanhando de Ricardão. Então, anonimamente, Susan passou a enviar filmes sobre gigolôs para Shirley. Os títulos eram estes: Gigolô Americano; Gigolô Europeu Por Acidente; Os Gigolôs e Gigolô Suíço: Uma História Real.
Seis meses mais tarde, Ricardão sumiu sem nenhuma explicação da casa de Shirley. Dias depois, esta moça estava andando num beco escuro. Quando, de repente, uma pessoa encapuzada agarrou a pobre e deu várias facadas matando a coitada. Logo polícia prendeu Ricardão. A prisão deste Personal Friend apareceu, como notícia, na televisão. Quando Susan viu esta cena, pensou:
- Matei a minha amada Shirley só para ver este detestável gigolô na cadeia.





Luciana do Rocio Mallon

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