quarta-feira, 12 de maio de 2010

Elisa e a Arte de Viver


Elisa tinha cinco anos de idade e era uma menina muito sapeca. Um certo dia sua mãe, dona Úrsula, saiu de casa e a garota abriu sozinha uma lata de creme, que caiu no chão. Sua mãe, quando voltou, viu a travessura e gritou:
- Fazendo arte, de novo!
A criança assustada saiu correndo para o quarto da sua avó, dona Sofia, e perguntou-lhe:
- Vovó, o que é Arte?
A idosa respondeu:
- Arte é a capacidade que o ser humano tem de transformar coisas simples em obras inesquecíveis. Exemplos: um músico faz as notas musicais virarem uma bela canção, o pintor escolhe as tintas para fazer um quadro e a costureira pega um pedaço de pano e consegue montar uma roupa.
Então, Elisa comentou:
- Isto parece mágica.
A velhinha explicou:
- Sim, isto é uma mágica chamada criatividade.
Deste jeito, a menina disse:
- Hoje eu derrubei uma lata de creme no chão e a mamãe gritou que eu estava fazendo Arte.
- Derrubar coisas é Arte?
Sofia falou:
- O que você fez foi uma simples travessura. Muitas pessoas usam o termo Arte, no sentido pejorativo, para designar traquinagens. Porém esta definição errada de Arte deu-se numa época em que os artistas eram vistos com preconceito pela sociedade, como se eles fossem vagabundos.
Naquele instante Pedro, o pai de Elisa, entrou no quarto e gritou:
- Vocês estão falando de Arte?!
- Não quero que você vire artista, Elisa!
- E quanto a senhora, mamãe, ninguém pode saber daquele segredo!
Depois desta bronca a saiu chorando para o quarto. Quando ela completou sete anos, dona Sofia colocou a neta para fazer aulas de balé às escondidas. A idosa também comprou um violão e dava tintas coloridas, para a garota, sem que seu pai percebesse. Um certo dia, quando Elisa já estava com doze anos de idade, Pedro avisou que passaria uma semana fora de casa, pois viajaria a serviço. Desta maneira, num sábado sem a presença de Pedro, dona Sofia teve a idéia de fazer um sarau com os artistas da cidade em sua residência. Assim a idosa telefonou para eles e foi uma grande festa, pois havia vários artistas: bailarinos, músicos, atores, pintores, costureiros e escritores. Porém no meio do baile, de supetão, Pedro apareceu e gritou:
- Que bagunça é esta em minha moradia?!
Deste jeito ele apontou para Sofia e berrou:
- Aposto que esta balbúrdia é invenção sua, mamãe!
- O que vocês estão olhando?!
- Saiam todos da minha casa, ou, eu chamarei a polícia!
Então a anciã foi para o quarto chorar. Então Elisa entrou no quarto da avó e se surpreendeu quando viu fotos antigas, de uma vedete, em cima da cama. Assim a adolescente perguntou:
- A dançarina da foto é a senhora, vovó?
Sofia respondeu:
- Sim. Pois eu fui dançarina de teatro de revista. Além de dançar, eu cantava, representava e fotografava.
Após dizer estas palavras, a velhinha caiu morta no chão. No dia do velório da anciã, Elisa leu a seguinte poesia que fez em homenagem a avó:
“Minha Arte é Viver

Minha arte é viver...
Ela está acima do prazer!
Eu pinto todos os pensamentos...
Com as cores dos sentimentos!

Faço música com as vozes...
Dos seres mais ferozes!
Com os sons da natureza...
Na sinfonia da beleza!

Eu danço pelo divino ar...
Para não se acomodar...
Aqui, ou, em qualquer lugar!

Vovó, fui eu quem costurou sua mortalha...
Com o tecido suave e eterno da sabedoria...
Porque a criatividade nunca falha...
Para quem deseja expulsar a agonia!

Minha arte é viver...
Não há morte, só anoitecer.”

Após declamar esta poesia, a menina foi aplaudida e colocou uma rosa vermelha no túmulo de sua avó.



Luciana do Rocio Mallon

Um comentário:

Luly disse...

Emocionante!!! Só isso.
Parabéns!
Bjks Lu Oliveira