domingo, 30 de maio de 2010

Tomando Sorvete Com O Doutor Vovô



Antes de ontem, em companhia de uma pessoa de grande estima para mim, estava a observar o freezer de sorvete em um bar. Não fazia nem dez segundos que havíamos soltado o 20º comentário sobre o clima de Curitiba. Estávamos todos com os aparatos de frio: casacos, cachecóis, mais casacos, ceroulas e luvas. Mas mesmo com todo o conjunto de coisas, que nos fazia pensar em cama, cobertor e aquecedor, não superava o fascínio de mirar o freezer.
Que freezer lindo. Cheio de sorvetes, de todos os sabores, cores, tamanhos e aquele gelinho que gruda na parede. Não tenho idéia de quanto tempo fiquei estática fitando a caixa de gelo. Passaram inúmeros pensamentos em minha cabeça e apenas um pode ser pronunciado. “Ai que vontade de tomar sorvete!”
Logo após meu comentário vi a cidadã acenando com a cabeça em sinal de aprovação. Nesse momento dei continuidade ao meu insight. “Mas porque que no inverno, apesar do frio, dá mais vontade de tomar sorvete?”
Passei a infância ouvindo meu avô dizer que o certo é tomar sorvete no inverno, porque não dá aquele choque de corpo quente e suado com o gelado do sorvete, vulgo choque térmico. Meu avô tinha um pequeno ritual para me servir sorvete: Me fazia sentar na cadeira mais alta da sala, trazia dois potinhos com sorvete e dois copos de água, para mim e para ele. Era uma colherada de sorvete e um gole de água, segundo ele, para não me dar dor de garganta. E por incrível que pareça, nas anedotas de minha infância com meu avô não tive sequer uma inflamação.
- Considerações: Especialistas explicam que o sorvete, por si só, não é prejudicial. O que acontece é que ele ajuda na mudança brusca de temperatura da faringe, situação que, juntamente com outras questões, pode facilitar uma infecção. - Por isso a água em temperatura ambiente, genial Vovô.
E pensando sob o ponto de vista estético, foi aí que dei continuidade ao meu diálogo na frente do freezer congelante. O sorvete parece mais bonito no inverno. Dá a impressão que somente no inverno você entende, de fato, qual é a temperatura de um sorvete, o quanto é gelado, quem sabe até comparando a você mesmo andando contra o vento frio e úmido de Curitiba. No verão, o sorvete parece com você também: de regata, sunga branca, de havaianas, suado, besuntado com óleo bronzeador sob um sol escaldante. Você olha o freezer e ele mais parece um forno. Não há o gelo nas paredes já que as pessoas abrem freneticamente sua tampa em busca de refresco. No verão, o sorvete é quente! Você o segura e ele derrete por entre seus dedos, misturando-se com o óleo bronzeador fator 2 e 3/4 - Um nojo.
Ah, o inverno... experimente tomar um sorvete! O sabor é outro, a consistência é outra e pode-se caminhar por Curitiba inteira com uma casquinha intacta nas mãos.
Ah, o inverno...


Larissa Santin

Um comentário:

Anônimo disse...

A única coisa boa de ter sido operado das amígdalas foi ter de tomar gelado depois. Para ser bem franco, munca me deu vontade de tomar sorvete no inverno. Agora deu. :-)
Beijo, Lari.

Mario