quinta-feira, 22 de abril de 2010

Razão e Sensibilidade


O Caos e o Equilíbrio se encontram em uma manhã quente de sol, daquelas em que você acorda suando e torcendo pra que não encontre ninguém ao seu lado, ninguém que te traga nenhuma pergunta para te atormentar.
Se misturam, tentando levantar da cama e colocando os chinelos fofos nos pés, mesmo estando de meias e ainda meio sonolentos e tropeçando nas coisas deixadas pelo caminho. Até o banheiro, quase se engalfinham para estabelecer quem entra primeiro. E assim que o decidem, param em frente ao espelho e se olham. O Caos mente pra si mesmo não se olhando muito, o Equilíbrio tenta se entender procurando imperfeições na sua face.
Pouco depois, abrem a ducha e se jogam debaixo da água escaldante na esperança de terem seus braços trêmulos curados. Tudo o que é quente, cura ou te traz a visão do real.
Ainda se batendo, lutam pela mesma toalha, que seca o excesso da atividade mental. Um, se envolve totalmente para que o frio não o apanhe e o outro, deixa alguns respingos no corpo para sentir a delicadeza da vida. De forma calma, olham-se novamente no espelho, procurando algo que não encontraram no momento do despertar. Ainda não vêem nada além de suas rugas, já conhecidas, e seu doce sorriso, já embalsamado.
Na cozinha preparam o desjejum que os alimentará para o dia, já que não sabem se haverá outra refeição. O Caos prefere as regalias do extremo, enquanto o Equilíbrio torna trazer o cardápio de ontem. A artimanha de cada um é perspicaz e solidária, não havendo o que tornar um melhor que o outro... são, apenas, o complemento um do outro.
O dia segue e então saem no mundo em busca do que os faça existir. Cada um com sua característica, tão visível para uns e tão inexata para tantos. Visões místicas de algo tão terreno... Materialmente, incisivos em sua opinião e espiritualmente, esplendidamente capazes de argumentar contra si mesmos.
Trabalham pela simples arte de estarem presentes e pela súbita emoção de serem o que são. Algo bastante ilusório e fugaz, ou não... talvez, contemplem o fato de que sem eles, nada aconteceria. O que vem a favor é concedido ao Caos como bênção, mas ao Equilíbrio como marasmo. O que lhes vem contra, ao Caos, transposição, ao Equilíbrio, redenção. Passam oito horas todos os dias engalfinhando-se entre as masmorras da decência e a liberdade das obscenidades. Mas o dia tem que acabar.
O Caos e o Equilíbrio precisam viver juntos, enfim. No fim da tarde, reencontram-se para os comentários do dia. Um dia tão atribulado e entupido de decisões que poderiam esperar ou de situações que teriam que ser resolvidas naquele momento, mas que vão esperar até amanhã porque entre o Caos e o Equilíbrio tudo tem que ter um tempo.
Nada melhor do que uma noite de sono.




Angelica Carvalho

Um comentário:

Karime disse...

Miga, dá um autografo ?

Beijokas!