quarta-feira, 19 de maio de 2010

Hoje é dia de estreia no blog. Juliana Biancato é apresentadora do programa Where TV, exibido na Band paranaense às 10h30, aos sábados. É atriz, modelo e matriz da simpatia absoluta. Essa aquariana (signo vocacionado para o carisma) é também poeta, embora se defina como uma “escrevinhadora”. Seja lá o que isso signifique, ela manda muito bem no que escreve, possivelmente porque sabe sorver a vida com intensidade, como pode ser percebido no texto abaixo. Bem-vinda, Juliana.

Choro E Gozo


Era sempre quando estava sozinha. Ela já sabia. Opa! Era o momento que iria chorar.
“Ele vai sair e ele não vem mais, ele só volta à noite e ele não responde mais, ele foi tomar banho e ele não liga mais, ele foi trabalhar e ele não me quer mais”.
Foi então entendeu que poderia chorar a qualquer momento. “Sou atriz, posso chorar!”
E chorava.
Mas chorava de verdade daquela dor doída, doida, que vem assim como fome que corrói o estômago.
E chorava... E lhe queriam satisfações e ela então dizia: “São exercícios”. “Estou criando uma personagem”. “Estou estudando uma personagem”. “Estou ensaiando uma personagem”. “É minha personagem”.
Mas sentia! Ah, como sentia.
“Como podem dizer que eu sou uma boa atriz, se é tudo verdade?! o que sabem eles de interpretar? O que sei eu? Nunca interpretei... não existe interpretação, isso quem inventou foi alguém que também sentia demais e precisava muito compartilhar com a atenção das pessoas dispostas a sentirem também.”
Nunca interpretou. Sempre fora ela que, dentre todas elas que tinha dentro dela, queria vir à superfície e viver um pouco. Mesmo se essa vida fosse só dor. Dor de saudade, de autopiedade, de amor, de amar, de ter dó do mundo, de ser mãe, de culpa, de culpar... De viver, de querer, de querer viver, de bem querer!
Mas essa era realmente ela? E aquela outra ela? Aquela que ri muito, que faz piadas, que faz graça, que é uma graça, que é linda e que todos amam! Essa interpreta as vezes que julga necessário interpretar para si mesma. “Mas qual é o problema de interpretar? Sou atriz, eu interpreto”. Essa outra ela quer ser ela a maior parte do tempo. Será que não era ela mesma essa ela?
Das outras elas ela já não lembrava mais, já nem se importava que não fossem mais ela as outras elas. Foram coadjuvantes. Elenco de apoio, para suportar e fazer escada para o ego dela que também tinha os seus caprichos.
Mas essas duas elas a dividiam partindo-a ao meio entre culpa e prazer... Entre choro e gozo. Entre dor e riso. Entre saudade e novidade. Entre paz e peso.
E ela amava as duas! E foi aí que as duas se tornaram uma.
Tornaram-se Ela.


Juliana Biancato

4 comentários:

Andréia Kaláboa disse...

Para quem interpreta... só quero dizer que este texto é um espetáculo.
Bjs da Déia

Anônimo disse...

Welcome, Ju. Adorei o texto...

Beijão

Angelica

Anônimo disse...

Que bonito seu texto Ju!
Seja bem vinda :D

Beijos

Fer

Anônimo disse...

Muito Obrigada!
Ao Mário, Déia, Angélica e Fer!
Valeu a força.
bjos