sábado, 10 de julho de 2010

Boca Do gol


Todo mundo sabe o que é estar numa final de Copa do Mundo. Aquela sensação de é tudo ou nada, é agora ou nunca. Todo mundo sabe o que é o medo do goleiro diante do pênalti. E o do batedor ao assumir integralmente a responsabilidade de resumir anos de treino duro de toda uma equipe em um único chute. Aquela entrevista para um emprego dos sonhos é um exemplo. Mas há uma “final de copa” que as mulheres deveriam conhecer bem. É aquele encontro para sair com um pretendente não-assumido: aquele tipo que marca um jantarzinho de amigos com segundas intenções. Claro que rola um nervosismo de ambos os lados, mas para o homem (que acha que escolheu mas na verdade foi escolhido) é, muitas vezes, a peleja mais importante de uma vida. Não que homens comparem mulheres a futebol, mas a analogia é apropriada nestes tempos de pátria de chuteiras. Ao se preparar para o encontro, o dito pretendente se aparamenta no vestuário com camisa, chuteira e calção, tudo convertido em uma camisa da sorte, um blusão que o vendedor garantiu ser chique, um perfume que tenha algum componente afrodisíaco (nem que seja um mero placebo aromático). O campo ele mesmo escolhe: restaurante, balada, peça, etc. A torcida é puramente íntima, no máximo um ou dois amigos foram previamente avisados para levantar a moral e ajudar na estratégia do jogo. As formalidades são essenciais: deixar de abrir a porta do carro para ela é como errar o hino nacional. E o jogo efetivamente começa quando estão sentados um de frente para o outro. Ele sabe que os 90 minutos passam rápido. E que o melhor é marcar já no começo, pois deixar para a prorrogação (carro ou porta de casa) é tática de desespero. No diálogo surgem os dribles a uma resistência inicial. Ela cita com carinho o ex-namorado, opa, falta! Pode ser sinal de que é melhor tirar o time. No momento seguinte, ela elogia o sorriso de seu interlocutor, olé! E é gingando entre gestos, frases de efeito e uma ou duas taças de vinho que se vai avançando o meio campo. Só que existe o momento mágico, aquele que não pode ser perdido, quando se abriu a guarda com um “que bom estar com você”, e deixar de chutar pode ser um atestado de desinteresse ou de excessiva timidez. Mas o pior é quando, na verdade, se tratava de gesto meramente cordial: “que bom estar COM UM AMIGO como você”, na trave! Mas, supondo que o interesse seja realmente afetivo, o pretendente fica cuidadoso esperando o momento certo de correr pro ataque, ouvindo internamente vários “uuuhhhh!” de sua torcida íntima, de suas sinapses e batimentos cardíacos em acelerado descompasso à medida que se aproxima o final do tempo regulamentar. E é assim que o esporte da sedução se encontra com outros em termos de lances cruciais: o match point, o ippon, o último saque do tie break. É achar a brecha para chutar e correr pro abraço. E, como dizia o Djavan, é quando se sai do 0 x 0 e se faz 1 x 1.

Mario Lopes

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