quinta-feira, 15 de julho de 2010

Resta



Quando criança, ela desejava ser veterinária.

Cresceu, e acabou tornando-se uma cadela.

Da escritora, que um dia quis ser,

Tornou-se um rabisco medíocre,

feita de linhas tortas.

Do baile de formatura,

da valsa com o pai,

do álbum de fotos que todos deveriam ter

Ela só teve um vestido rasgado

O corpo, que sofreu tanto pudor rigoroso

Vive agora, a regra de pertencer a todos

Mas hoje, esse é um corpo que ninguém mais quer

Do único homem que nunca lhe prometeu coisas que não poderia cumprir

Ela guarda somente o número da lápide

E uma tentativa fracassada de extorquir o coveiro

De todos os outros que passaram

Ela só tem as cicatrizes

Dos sonhos que teve,

hoje só lhe resta a saudade.





Jéssica Ferreira

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