domingo, 1 de novembro de 2009

Inquietante



Marcela acordara com uma ideia fixa aquela manhã, sensações inquietantes a agitavam, um misto de desejo, curiosidade e tédio.
Após uma noite inteira de sexo não tão esplêndido como ela imaginara, sentia-se frustrada e ao mesmo tempo ainda permanecera com a sensação de desejo contido e insaciado. Revia as cenas daquele ato tão insignificante e o não conformismo a deixava impaciente, irritada. Os desejos estavam ainda à flor da pele, desejos selvagens, intensos. Sentia-se como se estivesse a ponto de ter um orgasmo, um orgasmo múltiplo.
E como desejava esse prazer indescritível, seu corpo nu sobre a maciez dos lençóis, suas mãos explorando seu corpo, a respiração intensa. Imaginava -se chegando ao clímax, um doce veneno infiltrando-se em suas veias, entorpecendo-a, deixando-a fora de si.
Mas Marcela tinha consciência de que se infiltrara num sonho distante da realidade em que se encontrava.
Atualmente observara no comportamento de seu marido um certo receio por novidades em relação ao sexo. Era verdade que às vezes ela exagerava, chegando até a assustá-lo com suas investidas. Ah, se os amigos dele soubessem que ele sentia-se impotente diante das provocações e loucuras de Marcela. Seria muito engraçado e constrangedor para ele. Não que Marcela fosse feia, ela era o tipo de mulher desejável, linda, sexy, atraía olhares, no trabalho, na rua.
O sexo para ela era imprescindível, como o ar para respirar. Gostava de ousar, tripudiar o sentido da palavra “sexo”. E agora uma vontade peculiar atiçava seus sentidos: ter um orgasmo múltiplo. Mas, ultimamente, as noites com seu companheiro costumavam ter os mesmos parâmetros de sempre. Tudo muito monótono para ela que era o tipo de mulher insaciável, aventureira, decidida, moderna. Porque os homens pareciam às vezes tão desinteressados pela busca do prazer? Porque eram tão machistas, até mesmo na cama?
Sentia saudades do início do relacionamento as transas inusitadas, faziam sexo em qualquer lugar, no cinema, banheiros públicos, na escada do prédio, no estacionamento, na piscina do clube, ao ar livre, na chuva, no portão de casa, na rua, no ônibus, no escritório, em casa, em cima da mesa, no sofá, no chão , na cozinha, na varanda à luz da lua, a cama era dificilmente o lugar escolhido. Experimentavam todas as posições, o desejo se intensificava dia após dia e existia um sentimento de extrema paixão e loucura entre os dois.
Relembrando essa época feliz de sua vida, Marcela olhava para si mesma agora, sozinha em seu quarto, o marido há pouco tempo saíra para trabalhar, apressado, nem ao menos um beijo de despedida. A noite anterior tinha sido um total fracasso, pelo menos para ela que havia “ficado a ver navios”, depois de míseros trinta segundos. Mas essa situação incomodava Marcela, o corpo ainda incendiando de excitação. A ideia de procurar um amante seria até interessante, mas ainda amava muito seu marido. Nada disso! tentaria realizar sua fantasia. E restituir a felicidade de outrora.
Ligou para o escritório de seu esposo: mandou entregar uma caixinha vermelha, dentro dela uma um bilhete:”Tenho uma surpresa para você logo à noite, não se atrase, estarei a sua espera”.
Começou a organizar sua noite quente: “velas por toda a casa, perfumes, música, uma lingerie sexy, pétalas de rosas no caminho até o quarto, acessórios que comprara numa sex shop. Marcela vestiu-se, olhou seu reflexo no espelho, parecia uma atriz de filme pornô, cinta liga vermelha, luvas, corpete, scarpins, olhava aquela imagem e deliciava-se de prazer. Estava realmente muito sexy.
Lembrou-se do filme "Strip Tease", com a Demi Moore, pôs-se a dançar, envolta numa atmosfera de êxtase e mistério, lentamente, num movimento sensual, ritmado...
Então, subitamente, sentiu o toque de mãos insistentes, movendo-se precipitadas. Conforme o som da música, os corpos movimentavam-se juntos numa dança envolvente, no início devagar, depois freneticamente, intensamente. Sem resistir aos apelos de seu corpo, Marcela entregou-se, tornou-se escrava de suas vontades, seus sentidos não mais a obedeciam, cada beijo, cada contato a enlouqueciam. Aos poucos tudo foi acontecendo de forma intensa, a respiração ofegante, os batimentos acelerados, a sensação foi indescritível, o primeiro, o segundo, em seguida o terceiro orgasmo, levaram-na ao êxtase, uma viagem lasciva para o universo do prazer.
Marcela despertou com um beijo suave em seu pescoço, olhos verdes sorriam para ela. O corpo ainda sob a ação voluptuosa da noite anterior. Ela também sorriu, não apenas pela satisfação de alcançar o prazer absoluto, mas por ter restabelecido sua felicidade.


Elaine Souza

2 comentários:

Anônimo disse...

Bem insinuante, Elaine. Caliente. ;-)
Beijo.

Mario

Karime disse...

Sensualíssimo