segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Tema da semana: Surra de Amor

Vai encarar?



- Gostou ?
- Ãããn?
- Gostou do carinha surfistinha ?
- Quêê ?
- Ah, não te faz, Andréia ! Te vi sacando o carinha de terno cinza, com pinta de surfista.
- Como é que é, Alberto ?!
- Aquele ali ó, que tá dançando com tua amiga...
- Mas de onde tu tirou isso, criatura ? Primeiro, que estamos casados, segundo que ele está dançando com a Vivi.
- Ah, não finge, Andréia...
- Olha, Alberto... é a terceira festa de casamento das minhas amigas que tu estraga com esse teu ciúme doentio.
- Se tu não aprontasse...
- Eu ?? Eu não sou tu, Alberto. Não sou tu! E vamos voltar pra mesa! Não quero mais dançar.
- Não! Vamos ficar aqui na pista. Assim tu continua encarando o bonitinho....
- Aaaaaai! Não me puxa!
- Andréia... volta aqui!

....

- Amiga, tenho que ir...
- Ah, Déia... Já?
- Já. O Alberto surtou de novo. Viajou que tô encarando o carinha que tá dançando com a Vivi.
- De novo essa história? É a terceira festa que ele estraga, Déia!
- É, eu sei. Não aguento mais. E pior, que ele bebeu horrores... tô sentindo que a noite vai ser longa. Bom, tenho que ir... Amiga, estou muito feliz por ti! Que Deus abençoe a união de vocês.
- Obrigada. Te cuida. Falamos na volta da nossa lua-de-mel.
- OK... Divirtam-se e aproveitem Bali por mim.

....

- Onde tu pensa que vai?
- Pra casa, Alberto. Aqui não fico mais passando vergonha e sendo agredida por ti.
- Agredida? Só te dei um puxãozinho pelo braço!
- Começa assim... e não me segura. Me deixa ir.
- Vai como? A chave do carro tá comigo.
- É, eu sei. Mas a chave da casa tá comigo e, depois que casamos, aprendi a levar dinheiro na bolsa, no caso de acontecer algum “imprevisto”. Como esse. Táxi! Tchau, Alberto. Boa festa.
- Déia! Volta aqui! Dééiaa....

...

- Aaaai! Sai de cima de mim! Que horas são ?
- Não sei. Tá quase amanhecendo.
- Que nojo! Tu tá cheirando a bebida... sai daqui!! Me deixa dormir.
- Quero transar.
- Transa com a almofada, me deixa em paz, seu ridículo.
- O quê?? Eu sou ridículo mesmo! Te acompanho no casamento da tua amiguinha e faço papel de ridículo enquanto minha mulher encara um surfista.
- Tu surtou, Alberto... surtou! Não sou tu. Agora, me deixa em paz e me largaaaa!
- Quero te comer.
- Aaaai, me larga!
- Tá com medo de ficar de costas pro teu maridinho?
- Sim! Me larga, seu louco!! Aaaaaaaai!
- Desgraçada!
- Aaaaaaai! Alberto pára! Aaaai! Pára, pelo amor de Deus... tu tá me machucando!
- Vagabunda... pra que me chutar ?
- Pra tu parar de me agredir ! Não quero nada contigo, ainda mais à força. Saaai daquiii! Saaai!
- Pára de gritar, sua louca! Cala a boca!
- Aaaai!!! Cachorro... tô sangrando... minha boca tá machucada. Meu corpo dói... Some daquiiiiii!
- Daqui eu não saio. E pára de chorar. Não te faz de coitadinha.
- Tô com dor de cabeça!
- Ah, um clássico! Conta outra...
- Conto. Você também está com dor.
- Eu não!
- Dor de cotovelo!
- Ai! Você me acertou nos bagos!
- Foi sem querer. Tô só tentando me afastar de você.
- Não seja por isso, eu te afasto.
- Grosso! Você me derrubou da cama!
- Hoje tá quente, tá mais geladinho aí no assoalho.
- Quer frio, é? Quer frio? Então me dá essas cobertas!
- É assim? Então aproveita e leva esse travesseiro.
- Ai, não me bate!
- Ué, antes você não gostava de guerra de travesseiro?
- Isso era antes de você ter virado um cavalo. Agora só topo se eu puder colocar um ferro de passar dentro da fronha.
- Vai, pega lá. Eu boto um cactus dentro do meu travesseiro.
- Mais espinhoso que essa sua barba mal feita não vai ser.
- Antes você gostava dela roçando na nuca.
- Antes! Antes! Antes! Antes você não era um porco espinho.
- Antes você não era essa vaca atolada!
- Quer outro chute nos bagos?!
- Experimenta! Experimenta!

...

- Calma, calma, senhores. Vou responder a uma pergunta por vez.
- Doutor, qual a causa mortis?
- Bem, o casal já foi trazido bastante debilitado. Não sabemos quem os espancou, foram encontrados desacordados no quarto.
- Doutor, mas chegaram vivos, não foi?
- Sim, nós mesmos estamos confusos e não sabemos o que de preciso temos para informar a vocês da imprensa, mas foi isso: eles chegaram vivos, sim. Faleceram aqui.
- Qual a suspeita?
- A causa mortis nós sabemos, mas as circunstâncias ainda são confusas. Quando os dois chegaram no hospital, resolvemos deixá-los juntos em um mesmo quarto, pois acreditávamos que se sentiriam melhor ao recobrar a consciência.
- E recobraram?
- Sim, uma enfermeira testemunhou quando abriram os olhos, então ela veio correndo até um de nossos médicos para contar. Quando voltaram ao quarto, os dois estavam mortos.
- Como morreram?
- Foi tirado o respirador do marido. A esposa também morreu asfixiada, só que por um travesseiro. E o mais estranho é que o assassino deixou o corpo dele sobre o dela. Provavelmente foi uma tentativa patética de fazer parecer que o marido matou a esposa com o travesseiro. Também foram encontradas digitais dela no tubo do respirador, ou seja, o assassino com certeza colocou os dedos da mulher no equipamento para parecer que ela é que o tinha tirado do marido.
- O senhor está sabendo que o caso já causou comoção nacional?
- Sim, já. Os familiares e amigos garantem que era um casal excepcional. Ninguém consegue imaginar qual motivo levaria alguém a querer matá-los. Sabemos também que depois da vigília que estão fazendo em nossa capela ecumênica, os fiéis farão uma passeata.
- Reivindicando o que?
- Maior segurança. Como pode um casal que se ama ser atingido assim dentro de casa, e no próprio leito?
- E quem os atingiu?
- Daí os senhores terão de indagar a polícia.
- Mas não há nenhuma suspeita?
- Não há nenhuma pista até agora. Mas ao que parece já há um suspeito preso.
- Quem?
- Terão de perguntar o nome à polícia. Só sei que é um rapaz de terno com jeito de surfista. Próxima pergunta...





Karime Abrão e Mario Lopes

7 comentários:

Anônimo disse...

Se não tivesse lido os nomes dos autores no final, eu diria que é uma historieta escrita pelo Luiz Fernando Veríssimo. Muito legal,engraçada, diálogos e desfecho ao estilo veríssimo. Mas mesmo que não tivessem, os autores, separado seus textos pela cor, assim mesmo daria para identificar quem escreveu o quê, pelo uso dos pronomes tu e você.
Parabéns!
Gilberto Abrão

Anônimo disse...

Valeu, Gilberto. A Karime bem que avisou que não era necessário separar os textos. E obrigado pela referência ao LFV, é um enorme orgulho e honra você nos ter comparado a esse gaúcho pra lá de genial, Tchê!
Abraço.

Mario

disse...

Eu fiquei nervosa lendo... ainda bem que se mataram... as vezes a morte é a melhor saída rsrsrsrsrsrsrsrsrs

Parabens!

bj bj

absolutsubzero disse...

Karime e Mario

Ótimo texto, chorei de rir nas brigas e no final.
Como toda estudante de cinema já pensei nisso sendo tranformado em curta.

Beijos

Daniela

Leticia Mueller disse...

Adorei.Parabéns para os dois.

Beijos

Karime disse...

Oi pai, oi Re, oi Dani, oi Leticia ! Obrigada! Adorei que vcs gostaram! Se meu partner topar, em breve repetimos a brincadeira.
Bjos

Unknown disse...

P/se ter uma idéia de como as aparências enganam...
Beijos!