terça-feira, 10 de novembro de 2009

Medo De Você



Cerca de 10 a 15 % da população possui verdadeira fobia de se ver e interagir com pessoas como você

Na sala, seus olhos procuravam por algum ponto a fixar o olhar. Passaram apenas dez minutos, mas uma eternidade afoita para quem já havia pedido para adiar a tão esperada conversa do dia. Os óculos, agora um refúgio, lhe servem de apoio nessas horas. Vinte e cinco minutos passaram e olhando para o chão como sendo sua redenção naquela hora, lançou com as forças que guardava para o momento “Eu olho para todos os lados e várias pessoas parece que estão planejando algo contra a minha pessoa, aí eu penso: ferrou pro meu lado!”, conta Gilberto de Miranda, 19, mais um na multidão que nem mesmo ele gosta de imaginar. Mas esta mesma multidão abriga parte da população que sofre de um único medo em comum: medo de você, medo de mim, medo de gente e pessoas e de tudo que possa fazer na frente delas. Ou o que elas, eu, você, possam lhes fazer. Eles têm Fobia Social.


“Tenho medo das pessoas”

Segundo dados dos tratados de psiquiatria no mundo, estima-se que 10 a 15 % da população sofra desta doença, ou seja, um transtorno comportamental que em muitas vezes confunde-se com uma grande timidez e não é levada a sério como se deveria.Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), o percentual de fóbicos no mundo é de 8%. O fóbico social tem um distúrbio de ansiedade e não consegue se controlar. A doença aparece geralmente na infância, muitas vezes relacionada a alguma situação traumática. E foi quando pequenos que os pais de Giba (nome aqui não revelado para preservar sua identidade) pecaram. Eles respondiam, falavam e agiam por ele, sem que desenvolvessem a interação do filho com o mundo lá fora. E foi ali, naquele “mundinho” particular que nascia o pequeno fóbico, que não precisava falar com as pessoas e que cada vez mais sentia vergonha delas. Há cerca de um ano e meio, assistindo a um programa na televisão, Giba viu um quadro sobre o assunto e identificou seus sintomas com os apresentados pela doença. Ali teve a confirmação que sua timidez excessiva tinha nome e comunicou aos seus pais. “É um medo presente todo dia em minha vida. Tenho medo das pessoas”, conta. “Se estou andando na rua e ouço passos atrás de mim já fico neurótico achando que podem fazer alguma coisa. Tenho medo até de olhar para trás e só fixo meu olhar pra frente... aí eu me perco na minha mente”.


Tocar violão é um dos hobbies preferidos do estudante Giba

A Fobia Social está divida em dois subtipos: fobia social circunscrita ou restrita, quando o doente tem medo de falar, comer ou realizar ações em público ou fobia social generalizada em que aparecem temor, ansiedade e aversão à maioria das situações sociais, como, por exemplo, manter conversas, ficar próximo de alguém, participar de festas ou eventos, falar em público, dentre outras situações.

Ou seja, estar e realizar coisas perto das pessoas torna-se verdadeiro martírio, até mesmo um bom trabalho pode ser rejeitado, como no caso de um emprego num callcenter que Giba largou após uma semana. Segundo a psicanalista Verônica Alvares, o fóbico deixa de fazer as coisas no campo afetivo, no trabalho e nos relacionamentos. “O indivíduo deixa de realizar as coisas básicas da vida”, conta a médica. “Geralmente começa na família, quando criança, ou com circunstâncias traumáticas. Cada vez que ele se aproxima de uma situação que possa lembrar aquela que experiência, ele se intimida e mantém um comportamento de fuga”. Ela explica que para o tratamento é preciso um acompanhamento médico medicamentoso como também a terapia psicológica.


“Eu olho para todos os ladose várias pessoas parece que estão planejando algo contra a minha pessoa, aí eu penso: ferrou pro meu lado!”

Mas para Giba, além de tomar remédios e fazer sessões de terapia, é preciso estar atento ao fato de que alguns comportamentos são fugas internas e consequências da doença. “Eu contei em mim mais de 150 Transtornos Obssessivos Compulsivos, porque uma das minhas manias é contar, sabe? (risos). Eles fazem parte da reação da minha doença”. Giba, é um "futuro professor de Ciências Sociais", como ele mesmo diz ironicamente. Nunca namorou e, para se divertir, sai e fica observando as pessoas sendo felizes, afirmando que sua diversão é assim: ver a diversão dos outros mas não participar dela. Menos de 25% dos fóbicos recebem tratamento e a maioria recebe tratamento inadequado, que deveria ser feito com antidepressivos e sessões de terapia. Conforme dito neste post, doença ocorre, geralmente, no inícío da adolescência ou na fase adulta. O diagnóstico cedo da doença pode prevenir a piora e deteriorização do quadro clínico, sendo capaz de melhorar em muito a qualidade de vida.

Mas há quem acredite na cura completa. David O. L., 23, apesar de recusar-se a aparecer, tem muito que mostrar e ensinar com o que já aprendeu com a doença, desde que a descobriu há nove anos. “O tratamento é como um reaprendizado. Você vai reaprendendo aos poucos com a tranquilidade que o medicamento oferece, passando a ver o mundo de forma diferente. Quando esse reaprendizado se completa, é a cura”, diz esperançoso, garantindo que sente que está com 80% de sua normalidade. Existe um site criado para ajudar as pessoas que tem o mesmo problema, tirando dúvidas e compartilhando depoimentos. Gilberto, David, e tantos outros estão não querendo apenas a cura, mas um entendimento. E nós, eu e você, que representamos o medo para eles podemos também representar a nossa ajuda de outra maneira: compreendendo.



Bianca Silva

3 comentários:

Anônimo disse...

Com tanta ferramenta para deixar as pessoas ainda mais unidas e sociáveis chega a ser bizarro esse tipo de distúrbio, Bia. Mas, de fato, temos de ser compreensíveis, como você mesma assinalou.
Beijo e parabéns pela matéria, VamB.

Mario

Karime disse...

Bia, eu te confesso que eu também tenho medo de pessoas. Ah se tenho.
Beijos

Anônimo disse...

Eu também!

;*

Bia