sexta-feira, 20 de março de 2009

Cartas para uma felicidade distante


Na minha época de colegial , a turma da escola fez uma excursão para a cidade de Paranaguá . Quando chegamos no local fomos até a Praça Fernando Amaro , onde sentei – me num monte de pedra . Naquele momento a professora chamou a minha atenção :
- Não sente – se , aí ! Por favor , tenha respeito com este lugar ! Diz a lenda que uma escritora está sepultada debaixo destas pedras .
Eu indaguei :
- Lenda ? Escritora sepultada ? Conte – me mais sobre esta história , professora ! Afinal, quando eu crescer quero ser uma caçadora de causos ...
Assim a mestra contou – nos :
- Júlia nasceu em Paranaguá e sempre gostou de escrever . Quando ela era adolescente foi obrigada a se casar com um homem rico e velho , que era desembargador . Assim a jovem mudou – se para a Ilha de São Francisco do Sul , em Santa Catarina . Apesar disto tudo ela teve um amor platônico : o poeta Benjamim Carvolina . Esta poetisa colocava cartas para o seu amado dentro de um tronco de uma árvore . Uma vez ela combinou de fugir com Carvolina , mas ele não apareceu nem no dia e na hora marcada . Mesmo desiludida, Júlia continuou a escrever e com a ajuda do padre Joaquim Gomes de Oliveira Paiva publicou dois livros : Flores Dispersas Volume I e Flores Dispersas Volume 2 . Mas por causa da decepção amorosa a escritora estava cada vez mais triste . Reza a lenda que a mansão , um pequeno castelo onde a escritora morava com o seu marido , era mal – assombrada pelos espíritos dos parentes dele . Quando seu esposo faleceu , Júlia ficou mais depressiva ainda . Por isto a escritora se fechou no castelo durante oito anos e a população inventou que eram os fantasmas daquela mansão que não deixavam a moça sair . Na época surgiu o boato de que as criadas do local viam a poetisa falando com os espíritos do casarão o tempo inteiro . Durante este tempo ela queria escrever um romance e para isto colecionava quadros com cenas campesinas . Em 1911 , depois de oito anos enclausurada no castelo , Júlia faleceu . Em 1924 os escritores parananguaras transferiram os restos mortais desta poetisa para os subterrâneos da Praça Fernando Amaro . Reza a lenda que a árvore onde a poetisa escondia seus bilhetes amorosos ainda existe na Ilha de São Francisco , e depois de seu falecimento esta planta ficou totalmente cor – de – rosa .
Na época em que a minha professora contou esta história fiquei com uma pontinha de dúvida .
Porém alguns dias atrás vi uma reportagem na televisão afirmando que , durante uma obra de revitalização , uns operários acharam os restos mortais da poetisa Júlia na praça mais famosa de Paranaguá .
Segundo esta matéria , os ossos de Júlia foram transferidos para o Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá onde será construído um mausoléu ao lado de um outro escritor : Leôncio Correia . Afinal ela é considerada a primeira poetisa paranaense .



Luciana do Rocio Mallon

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito tocante, Luciana. Parabéns pela sensibilidade e pela homenagem à escritora e à sua história. Só lamento o "felizes para sempre" dela só ter ficado na intenção.
Beijo.

Mario